A magia requer mente forte

Miguel ajustou o espelho e olhou as horas no celular. Estava nervoso. Levantou-se e foi beber água. O apartamento estava vazio, a lua cheia podia ser vista pela janela e um som irritante de axé brotava de algum lugar.

- DETESTO CARNAVAL. – Miguel falou consigo.

Olhou novamente as horas. Seu estômago revirou com o nervosismo. Era hora do ritual começar.

No aposento havia um espelho no chão, uma taça de vinho e quatro velas acesas posicionadas em forma de quadrado. Miguel se ajoelhou no centro do quadrado, em frente ao espelho. Fez respirações profundas e começou a pronunciar palavras em uma língua incompreensível. O antigo idioma atlante. Apenas o último trecho foi em português:


Ó Andariel, serva de Lilith

Eu te convoco em nome das quatro chamas sagradas.

Vem! Vem! Vem!

Em nome de Rá, o deus Sol.

Em nome de Osíris, aquele que conheceu o reino dos mortos.

Em nome de Ísis, sua verdadeira mãe.

Vem! Vem! Vem!

Atenda ao meu chamado e obedeça ao que for solicitado!


Pronunciando essas palavras, Miguel abriu os olhos e viu pelo espelho uma mulher tremendamente bela. Ela usava um vestido de alça preto, luvas longas e meia calça, seu olhar estava preenchido de desejo. A mulher se ajoelhou e mordeu delicadamente o ombro do homem. Miguel ficou paralisado pelo espanto.

- Não esperava por isso não é... Mago. – Disse Andariel com voz melodiosa. – Achou que eu iria me contentar em ficar dentro daquele espelho frio. Como poderia se há um homem tão quente aqui fora?

Miguel se virou para a mulher, realmente ela estava ali, naquele cômodo, carne e osso, fez menção de se levantar.

- Que tipo de garota você gosta? A princesinha que precisa ser salva, ou A DOMINADORA. – Falou Andariel enquanto empurrava o homem com o pé, jogando-o ao chão. – Você não faz ideia dos prazeres que poderá encontrar comigo. – Disse Andariel subindo sobre o mago e levando a mão em direção às partes íntimas do homem.

Miguel, submisso àquela mulher perfeita, começou a sentir o desejo espalhando por seu corpo. - Eu te quero mago, me torne sua. - Andariel sussurrou.

Miguel sentiu seu membro rígido, bastava aceitar, bastava relaxar e aproveitar o prazer. Esse era o caminho fácil, era como descer um morro. Mas não foi isso que ele escolheu. Miguel escolheu subir a montanha, passar fome, sentir o incômodo sol quente na nuca. O mago lutou contra seus instintos, seu cérebro gritava e desobedecia enquanto era contrariado.

- NÃO ME TOME POR UM TOLO! Isso causará nada mais do que destruição... demônio. – Disse o mago com firmeza e empurrou a mulher. Os dois se encararam por um momento, Andariel não viu hesitação, se ergueu irada.

- COMO OUSA MORTAL? COMO OUSA? – Gritou Andariel enquanto pegava o espelho e o batia no chão, o som do vidro estilhaçando preencheu a sala. – VOCÊ ACHA QUE ESSES BRINQUEDOS PATÉTICOS VÃO TE PROTEGER? ARDA MORTAL, ARDA COM O FOGO DO INFERNO. – A mulher fez um gesto e chamas surgiram por todo o corpo do homem, ele se contorceu e gritou em agonia. Andariel olhou por um instante o sofrimento daquele tolo. Em seguida, pegou a taça de vinho, deu as costas e se virou para a janela. Lua cheia.

- Mas você foi um imbecil útil, preciso agradecê-lo por me trazer até aqui. Já dizia o ditado: “É melhor reinar na terra do que servir no inferno”. – falou Andariel e tomou um gole de vinho.

Enquanto apreciava o distante som de Axé, a mulher não percebeu que o homem havia parado de gemer.

- Muito bem, vamos acabar logo com iss... – Andariel interrompeu a fala. No susto, permitiu que a taça de vinho caísse e se espatifasse no chão. O homem estava em pé com uma das mãos estendidas. Sobre sua mão o fogo girava em forma de galáxia. O mago estava intacto.

- Eu preciso ver uma pessoa e você VAI encontrá-la para mim. – Falou Miguel e fechou as mãos causando a extinção das chamas. – ENTENDIDO?

- Sim, mestre. – Andariel se ajoelhou.


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vultor