Rooftop

por igor_m2 em

I don't trust in any God. I don't know who God is, but I know what God should be.

- Deus...Gostaria de te perguntar uma coisa. Porque eu?...

As noites já não são as mesmas. a noção de tempo a cada dia que passa muda, como se essa angústia e esse sofrimento não parasse nunca e que a cada um segundo de existência parecem ter 60 minutos de duração. Felizmente o som da chuva que começa a cair pode abafar os sons de que eu realmente não gostaria de ouvir mais.

- e se...

essa famosa expressão não sai mais dos meus pensamentos.  sabe quando voce tenta voltar ao passado...e as vezes consegue? mas quando voce está la, nada pode ser mudado e tudo que aconteceu...apenas aconteceu.

a dois dias atrás eu pensava em minha existencia, minha vida patética e sem cor...e que a cada dia que eu acordava, era apenas mais um dia como outro qualquer. Não que o Destino exista ou que a sorte realmente faça parte de sua vida mas não esperava que tudo fosse piorar...

- Você faz muito drama Sabia?

era disso que eu estava falando anteriormente. Ecos do passado que falam comigo como se estivesse ao meu lado.

- Mas eu estou do seu lado

realmente ela estava do meu lado, sentado no parapeito do prédio de 15 andares, avistando as luzes da cidade e a chuva que caía na mesma.Uma jovem com mais ou menos 22 anos, cabelo curto e preto, pele branca e muito pálida.

Não sei como eu consegui ouvi-la, a chuva estava forte, e eu fazia questão de escutar cada gota caindo ao chão, pelo menos essa era minha intenção. Eu não tinha nem idéia de como ela chegou até mim. Só me lembro que subi as escadas e me sentei aqui.

- porque veio para este lugar?

Ela balançava as pernas, e estava sentada sobre as mãos. Parecia uma adolescente sentada em uma cadeira num banco de um parque que apreciava os pés balançando.

Eu não sabia por que motivo eu estava aqui, talvez meu sentimento de culpa tenha me levado até esse local.

- que é isso...voce se martiriza demais.

Cada palavra que ela me dizia, parecia sair do meu pensamento, como se meu outro lado da consciencia quisesse praticar um escapismo de mim mesmo.

- Porque voce não tenta voltar ao que aconteceu...e dessa vez ver realmente o que aconteceu e realmente aceitar o que aconteceu?

A princípio eu não aceitei esta idéia, apenas olhava pra baixo, e apreciava os muitos metros de distancia que estava do chão da rua, sentado naquele parapeito.

Fechei meus olhos por um instante, e o tempo parecia parar por um instante...

Eu estava em uma rua, caminhando em direção a um bar. Era uma noite chuvosa coincidentemente, apenas um dia qualquer para ser vivido. entrei no local, abrindo uma porta de vidro, que aparentemente não chamava atenção. O local não estava muito cheio. ao fundo, em um palco pequeno um guitarrista fazia um solo de jazz daqueles bem depressivos, o baixista marcava as notas e o baterista acompanhava a música. Eu realmente me sentia em casa.

Não me importava com a presença das pessoas no local, aliás nem notava mas sabia que alguem estava olhando pra mim. eu estava suspenso do departamento de polícia. Cometi alguns erros, mas eu era esperto o suficiente pra saber que alguem me seguia desde minha casa.

- Olá!

Uma bela mulher branca, cabelos longos e negros, com lábios carnudos e avermelhados pelo contorno do batom me abordou, sentou-se ao meu lado e pediu o mesmo drink que o meu. me apaixonei poucas vezes em minha vida, e não sabia o que era isso fazia anos, era quase impossível eu não reagir perante a ela.

- Em que posso  ajuda-la?

Não sabia o que falar, foi o que veio em minha mente logo que ela me abordou.

- Anders, não é?

Como ela sabia meu nome? talvez ela tenha visto na tv ou algum conhecido tenha dito a ela quem eu era.

- Sim...mas, quem é voce? como sabe meu nome?

Ela sorriu levemente, e tocou meu ombro com a mão esquerda

- Não foi tão difícil, acredite em mim! Sou Valkyria.

Valkyria. Minha mente tentava processar de onde eu conhecia aquele nome, mas enfim, sem sucesso.

- A propósito, voce me perseguiu por um quarteirão inteiro.

Ela tinha um perfume diferente de todos. Ela se levantou da cadeira e segurou minha mão.

- Por que não vem comigo?

Estranho. Eu não era de chamar muito a atenção de mulheres. mas não queria saber de mais nada, acho que pela primeira vez em minha vida insignificante algo de bom acontece.

Nós saímos daquele bar e andamos pelas ruas pelo resto da noite. pela manha dormimos juntos e o resto do dia, curtiamos como se fossemos um casal que ja estavam vivendo o famoso "felizes para sempre".

Quando a noite chegou, saímos da casa e fomos em busca de cigarros. Sim, era algo que aliviava a mente. Mas eu tinha parado de fumar há 10 anos. estava tão feliz que eu senti vontade de voltar a fumar. Estranho, não sei por que.

- Acho que uma carteira é o suficiente...

Enquanto eu pegava uma carteira, abraçava ela pela cintura e beijava o rosto dela. Mas foi quando tudo apagou de repente na loja de conveniências do posto. Alguns gritos na loja e logo um som de vidro se estilhaçando ao chão. provavelmente alguem tinha arrebentado a porta. E lógico, era um assalto.

- Anders!!

Valkyria gritava e o corre-corre das pessoas acabaram nos separando. Eu não sabia onde ela estava, mas sabia que tinha uma pessoa ao meu lado. segurei o braço desta pessoa e enfim tomei um soco que me afastou dele uns 2 metros.

- Anders...não!

Eu tinha uma faca comigo, tinha gravado a posição da pessoa que tinha me socado e enfim sem pestanejar enfiei a faca na barriga dela. foi quando a luz se acendeu.

- And..

Eu fiquei paralisado. Minha mente ficou em branco. não pensava em mais nada, não ouvia mais nada. Minha mão ainda segurava o cabo da faca que estava presa na barriga de valkyria. o sangue jorrava pela roupa dela. A única coisa que consegui ver dela, foi a lágrima caindo e o sorriso nos labios...

Morta. ela estava morta...

- Voce sabe que não foi assim...

Eu abri meus olhos novamente e finalmente escutava a chuva cair ao chão. E a jovem ainda estava do meu lado, falando comigo, no parapeito do prédio.

- Foi sim. culpa...tenho que aceitar, assim como Atlas o Titan teve que carregar o mundo nas costas.

Ela parecia indignada e se levantou ficando ao meu lado, eu não conseguia olhar pra ela. Apenas pra baixo.

- Voce não se deu conta ainda de que esse não é o seu Inferno?

O que ela queria dizer com isso? inferno? o que tem a ver?

- Voce está Morto Anders. Morto!

Morto? mas...

- Não foi ela quem morreu, sua mente estava tão afagada com a felicidade que tinha construido que se fechou para com a verdade. era inadmissível aceitar que ela te matou, que o tempo todo ela queria te matar. Voce está morto!

Minha mente voltou aquele momento do posto. eu estava deitado ao chão e Valkyria tinha o sorriso nos labios e a lagrima caia apenas de um olho. Ela tirava lentamente a faca do meu estomago e falou uma ultima frase:

- "Talvez sejamos felizes em outra vida, quando nós dois formos gatos"

Eu conhecia essa frase. Era de um filme que assistia bastante e então me dei conta de que era assim que ela queria e estava satisfeita.

- Não conhece a lenda das Valkyrias Anders? ela leva as almas dos hérois em campo de batalha

Me levantei do parapeito e fiquei em pé ao lado da mulher.

- Aceite isso. Venha para o Limbo ou faça seu próprio paraíso, Anders

Ela segurou minha mão. naquele instante a chuva tinha diminuído e o dia parecia surgir, o céu tinha um aspecto avermelhado misturado com o cinza das nuvens que restavam, era realmente encantador... E então nos jogamos do Prédio, uma sensação maravilhosa afinal...