Capítulo 26 – A Última Jornada

por Hentges em

Vigésimo-sexto e último capítulo da crônica Os Espaços Vazios, publicada originalmente no blog The Truth's for Sale.

Cena 01 – Trilhas Tortuosas

Cutler emerge. O curativo descola-se do rosto enegrecido pela fuligem da pira no subterrâneo. A roupa úmida recende podridão. Pouco importa. Precisa de uísque. A garganta seca se incendeia e os olhos vazios não vêem mais o boteco decadente. Diante dele, apenas a imagem que seus planos projetam.

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Kroll observa o Reanimado. A perna ferida o obriga a apoiar-se sobre Green enquanto os olhos percorrem inúmeras vezes o relato registrado até poucos minutos. Não pode falar, comunicando-se por meio de resmungos e sons gorgolejantes.

Kroll – Como vocês pretendem dar fim a isso?
Green – Existe uma ponte além das trilhas. Ele sabe como fazer.

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Cutler – …e quando eles chegarem lá, sua mamãe vai ficar muito, muito desapontada.

Prisioneiro no banheiro, Thomas luta e debate-se contra as correias. Cutler sabe exatamente quando a mordaça deve contê-lo, fazendo-o sentir cada uma das palavras que são como chicotadas, e quando deve retirá-la, para o adolescente esbravejar pistas sem perceber.

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É impossível dizer quanto tempo andaram através da neve e dos espinhos. A luz baça vinda de todos os lugares não se altera. O céu é apenas uma nuvem cinzenta de inverno perpétuo. Marcham pelo que parece uma versão perversa do Parque Fairmount. Kroll lembra-se de algo que ouviu na última ocasião em que lá esteve.

- Vocês não fizeram os acordos corretos. O fogo não os atenderá aqui.

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Agynes Stone ouve o relato das intenções de Lucas Cutler para a casa que pertenceu ao seu pai, Jebediah. Está satisfeita por saber da venda a certo Ulysses Campbell, e a insinuação de que poderia ser demolida é o bastante para encerrar a ligação, e a relação entre eles, de forma muito mais amistosa do que se poderia prever.

Campbell, enquanto isso, confronta anotações do livro retirado do subterrâneo com obras de sua alegada futura propriedade.

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O conteúdo de um dos coquetéis molotov é despejado na neve. Kroll aproxima o isqueiro. Antes que o acenda, a chama azulada eleva-se e extingue-se. Não produz calor nem deixa marcas. Parece uma oferenda. Tendo sido aceita, poderá ser cobrada.

Assim pensa ele quando volta a juntar-se a Green e ao seu companheiro nem vivo nem morto.

Quarta-feira, 07/04/2010

Cena 02 – Aquilo que Atraímos

Green – Não podemos ir em frente.
Kroll – O que houve?
Green – Os outros relatos. É preciso deles para encontrar o caminho correto através das trilhas.
Kroll – Eu sei onde está o livro.
Green – Pode nos levar até ele?
Kroll – Como?
Green – Pense em seu vínculo com quem está de posse do livro. Isso vai nos levar ao lugar certo.
Kroll – Só isso?
Green – Sim, mas lembre-se, esse lugar vai refletir a ressonância daquilo que nos orientar. E não sabemos o que pode atrair.

Kroll não conhece Ulysses Campbell o suficiente para ir até ele. Mas com Cutler desenvolveu uma relação forte. Lembra-se das vezes em que a vida dependeu disso, das situações impensáveis que atravessaram. Como sobreviveram a tudo.

Não demora até que a velha casa de Stone possa ser divisada através da névoa gelada. O caminho é estreito, circundado por longos espinhos.

Inconscientemente, Kroll ignora que a amizade com Cutler fundou-se sobre violência e morte.

Mas a Sebe não.

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Os trechos de sonhos não produzem efeito algum sobre Thomas. Compreende tão pouco as intenções de Cutler quanto o sentido do que ouve. Um estrondo encerra a leitura. Diversas pancadas contra a porta. Tantas quanto o necessário para colocá-la abaixo.

Empunhando uma pistola, Oak invade o hall. Não está ali como um policial. É apenas uma força colocada em movimento pelo desejo de vingança. Tem o rosto contraído por espasmos de ódio. Atira assim que avista Cutler, parcialmente protegido pelas estantes de livros. O projétil raspa-lhe o ombro.

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Kroll e Green amparam o Reanimado e correm na direção da casa. O que os persegue ignora a carícia pontiaguda dos espinhos enquanto rompe a vegetação e bufa na excitação crescente do caçador.

A passagem abre-se para uma das salas abarrotadas da velha residência. Em um canto, aturdido, Ulysses Campbell busca proteger-se. Não há tempo para mais nada. Kroll apóia o corpo contra a porta que antes não existia. O impacto quase o derruba. Sabe que não vai agüentar muito mais tempo.

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De um dos cômodos do segundo andar Cutler busca atrair Oak até o alto das escadas.

Cutler – Aquela vagabunda da Krista… O que ela não fazia com você, fazia comigo!

Oak exprime sua fúria e atira no vazio. A convulsão dentro dele, porém, não o faz abandonar a cautela. Avança apenas até metade do lance de escadas. Cutler confere o ombro ferido e saca a pistola. Já passou por coisas demais para ser morto assim.

O estrondo vindo de outro cômodo distrai o detetive. Cutler aproveita a brecha e deixa as sombras. Atinge o peito de Oak, que tomba já morto no primeiro piso.

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Kroll ouve os disparos, mas não pode pensar nisso. Antes que Green chegue à porta, um novo impacto a escancara. Uma coisa nua e pálida, cujos traços faciais não passam de cortes feitos pelos espinhos, invade o cômodo. Ela guincha e ruge, farejando o ar. Volta-se para Kroll, que tem a pistola à mão. O disparo à queima-roupa soa estrondoso. Não há sangue, apenas um buraco negro na face sem rosto. Golpeado em resposta, Kroll vê-se desarmado e tendo de esquivar-se de novos ataques. É Green quem percebe a faca sobre uma mesa. Atinge a criatura nas costas, provocando um jorro de sangue pálido que a afugenta na direção da trilha de espinhos.

Estão retomando o fôlego quando Cutler aparece.

Cena 03 – Decisões e Despedidas

Nervosismo, surpresa, urgência. Todos contribuem para que seja difícil o esclarecimento dos eventos recentes. Passada a confusão inicial, planos são levados adiante.

Kroll, em companhia de Ulysses Campbell, vai até o antiquário. Antes disso o velho ocultista, a partir de uma observação de Cutler, percebera que a faca com a qual Thomas abriu caminho através dos espinhos – e utilizada por Green para ferir aquilo que os ameaçava – se parece em muito com uma peça folclórica da tribo Micmac. De posse dessa informação, e recordando que a arma utilizada contra Tailor no terraço do As Extremidades era uma antiga Luger da II Guerra Mundial, concluíram que o valor histórico dos objetos poderia ter peso em sua eficiência além do portal. E Cutler tem um rifle da época da Guerra Civil norte-americana. Após pegar a arma centenária, dirigem-se ao hotel onde Campbell hospedara-se, retornando com o livro anotado pelo Reanimado.

Ele e Green, por sua vez, tomam conta da porta utilizada para entrar na casa. Sabem que, dessa forma, o portal não se fechará. O risco de que algo tente novamente forçar a passagem tem de ser corrido diante da incapacidade de abrirem outro em tempo hábil.

Enquanto isso, Cutler leva nas mãos a faca dos Micmac. Diante dos olhos assustados de Thomas, agita-a de modo ameaçador.

Cutler – Mamãe mandou alguém! Mas ele não está mais aqui.

Thomas tem os olhos arregalados na direção da lâmina. Pressente o que está prestes a ocorrer. A ferramenta que o trouxe até aqui, que permitiu sonhar com sua mãe amando-o novamente, agora será…

Não há tempo para o raciocínio ser completado.

Empunhada por Cutler, a faca enterra-se até o cabo no coração de Thomas.

Morre em desespero, como qualquer criança aprisionada.

Para Cutler, morre com ele um de seus problemas.

Cena 04 – Fruta de Duende

O Reanimado atravessa o portal com o apoio de Green. Leva nas mãos o livro que estava em posse de Ulysses Campbell, que os acompanha de perto, absorvido por aquela experiência extraordinária. Mais atrás, Kroll anda com o rifle pendurado às costas. Cutler é o último.

Gastou suas últimas energias atravessando os corpos de Henry Oak e Thomas. Não quis deixá-los na casa, mesmo diante dos protestos de Green, revigorados quando gasolina e fogo entraram em questão. Exausto, Cutler deixou-se convencer de que os cadáveres enrolados em um tapete deveriam ficar em uma das trilhas, intocados, alimento de qualquer coisa que a Sebe enviasse.

Green – Ele é como eu. Há uma década vinha buscando formas de impedir que a Dama continuasse levando crianças. Antes que concluísse seu trabalho, foi aprisionado. Recentemente, porém, outros como nós o encontraram. E o trouxeram de volta. Esse grupo não queria impedir o contato com a Dama, queria ampliá-lo. Com a ajuda dos livros acumulados e dos sonhos roubados de seus irmãos, ele abriria o portal. Faltavam apenas os meus sonhos. Quando nos encontramos, entendi seu propósito e o assumiu como meu. Destruir a ponte. Impedir que isso continuasse.

Antes que Green possa falar mais, o Reanimado aponta na direção da árvore em uma clareira. Está carregada de frutas coloridas. Junto ao tronco, um pequeno duende enrola-se em um manto vermelho.

Duende – Desejam os meus frutos?

O Reanimado aponta a própria perna ferida e as frutas. Kroll também manca, resultado do ataque das cobras. O rosto de Cutler, ainda latejando pelas queimaduras, não está em melhor estado.

Duende – Se responderem minha adivinha, cada um de vocês poderá colher um dos frutos. Têm direito a uma única resposta, e existe apenas uma resposta correta. Mas, se errarem, deixarão aqui sua vontade de lutar.

O grupo pondera rapidamente. Feridos não poderão assumir alguns dos riscos que, acreditam, em breve serão impostos. Decidem fazer o jogo da criatura, mesmo diante das perspectivas sombrias próprias de qualquer interação nesse lugar.

Duende – Sou muito falado sem ser visto. Estou sempre vindo sem nunca ter sido. Estou eternamente me aproximando, mas jamais aqui. Milhares têm esperança que eu chegue, mas nenhum deles me encontrará. Quem sou eu?

Todos menos um hesitam diante do fardo de representar o grupo.

Cutler – Você é um boato.
Duende – Errado. Eu sou o amanhã!

O desânimo imediatamente toma conta de todos. Campbell senta-se em uma pedra, exausto. A ferida do Reanimado torna-se mais dolorosa. Dúvidas sobre como colocarão abaixo a ponte assaltam Kroll e Cutler. Green sente que estão condenados.

Alguém, talvez de todos o mais desesperado, propõe uma nova charada. Se o duende errar, poderão levar os frutos necessários.

Duende – Mas, se eu acertar, cada um de vocês deverá contar, a mim e aos demais, um segredo que não poderia ser dito.

A opção é um logro desde o princípio. O duende sob a árvore é um mestre em sua arte, e responde sem hesitar ao desafio proposto. Um a um, os membros do grupo revelam algo. Cada declaração é saboreada pela criatura de dentes serrilhados.

Campbell – O conhecimento que acumulei, as coisas que sei, elas foram roubadas de pessoas que eu admirava.

Cutler – Eu estava disposto a ameaçar e matar as filhas de Green se ele ficasse em meu caminho.

Green – Para viabilizar meus planos eu me associei a pessoas, fiz coisas, que talvez sejam piores do que aquilo que eu desejo combater.

Reanimado – O livro que nos orienta foi escrito junto ao leito de dezenas que assassinei.

Kroll – Da mesma forma que fez nos subterrâneos, Cutler atirou no Reanimado há cerca de um ano.

O Reanimado, que anunciou seu segredo com o auxílio de Green, tentaria atacar Cutler após a revelação de Kroll. Mas o pior resultado daquele encontro é a desconfiança que agora estava semeada entre todos.

Curiosamente, talvez arrependido, Kroll buscaria contornar a situação animando os demais ao longo dos passos seguintes dessa jornada cada vez mais sem esperança.

Cena 05 – Tom sobre a Ponte

Tom – Sr. Kroll!

O cabelo chamejante vibra quando o garoto percebe a aproximação de Kroll. Cutler vem logo atrás.

Tom está postado sobre uma ponte larga o bastante para que três homens andem lado a lado. Corre sob ela um rio caudaloso cujo único sinal é o ruído da correnteza. Abaixo da passagem há apenas a escuridão de uma fissura que poderia ser infinita. O rosto crispado pelas queimaduras transforma-se no maior dos sorrisos.

Tom – É muito bom ver o senhor sem que seja em um sonho.
Kroll – Tom, onde está ela?
Tom – Ela atravessou a ponte. Disse que ia buscar o que resta de mim. Para eu ficar completo do lado dela.
Cutler – Não podemos destruir a ponte com ela do outro lado.
Tom – Vocês não podem. O Sr. Claude ainda está lá. No canil.
Kroll – Nos mostre onde.
Tom – Não posso. Eu prometi que esperaria por ela aqui. Mas…
Kroll – Você não pode mentir para mim, Tom.
Tom – Sim, Sr. Kroll. Eu lembro. Acontece que eu prometi para o Sr. Claude que iria embora com ele. Prometi isso antes de prometer que ficaria aqui. Acho que promessas mais antigas são mais importantes, não é?
Cutler – Se trouxermos ele, você poderá ir embora?
Tom – Sim, quero ir embora.
Kroll – E os filhotes?
Tom – Estão presos. Ela tem deixado eles presos ultimamente.

Tom fica sobre a ponte. Com ele permanece o Reanimado. A natureza antagônica de ambos produz um desconforto palpável, cabendo a Campbell, que começa a entender seu modo de comunicar-se, a tarefa de acompanhá-los.

Green segue em frente, junto de Cutler e Kroll. Os dois temem o que pode ocorrer quando ele estiver frente a frente com Mogli, de quem é uma cópia, mas não irão dar-se ao luxo de perder tempo com uma discussão.

Cena 06 – Livre-Arbítrio

A beleza alienígena da paisagem além da ponte sobrecarrega os sentidos. Sua exuberância ameaçadora é amenizada pela presença da árvore frondosa, avistada no Parque Fairmount, único marco do possível neste lugar que não pode ser.

Junto dela, em uma caixa pequena o bastante para sufocar uma criança, o Sr. Claude geme baixinho.

Claude – É tudo culpa minha, toda essa tragédia, é tudo culpa minha…

Cutler ignora as lamúrias enquanto busca livrar o velho, mantido vivo apenas pelo desejo de uma crueldade inumana impondo sofrimento indizível.

Mais adiante na clareira, Green encara uma série de jaulas escavadas na encosta de um rochedo. Ali, em meio à escuridão, agita-se uma dezena de crianças transformadas em algo selvagem. Entre elas, Mogli o encara fixamente.

Kroll – Ele não é você.
Green – Eu sinto que é.
Kroll – Poderia ter sido, mas não é.
Green – É como se libertá-lo fosse o que me trouxe aqui.
Kroll – Vamos embora.

Aturdido, Green ocupa-se de Claude, cuja fragilidade quebradiça impõe dificuldades a Cutler.

Mogli – Senhor. Senhor!

Kroll volta-se na direção das jaulas, aproximando-se com cuidado.

Mogli – Senhor, me tira daqui!

O olhar não é daquela criatura capturada no Parque Fairmount. É da criança da qual Kroll se afeiçoou durante os dias de cativeiro.

Kroll – O que você quer?
Mogli – Me tira daqui. Quero ir embora.
Kroll – Posso confiar em você?
Mogli – Sim. Sim. Quando o senhor me libertou, assim que voltei pra cá, eu entendi… Eu quero voltar.

Kroll busca o mecanismo de controla das jaulas.

Mogli – Os outros, eles também querem ir. Eu posso controlá-los.

As presas e garras ainda manchadas de vermelho pela última refeição não despertam confiança. Mas quando aciona a alavanca, Kroll o faz sabendo que é genuína a sinceridade do garoto.

Os filhotes correm, rosnam e rolam na neve assim que deixam as jaulas. Mogli tem alguma influência sobre eles, fazendo aos latidos com que o grupo obedeça.

Cutler – Como podemos fazer algo contra ela?
Claude – Não podemos. Ela é… senhora desse… lugar. Aqui… tudo é… ela.
Cutler – Me ajuda, velho. Você deve ter ouvido algo.
Claude – O que ela deseja… é ser amada… ser a mãe… de seus filhos.

Cena 07 – Travessia 

Mogli e os filhotes ficam à margem da ponte. Green, que carrega o desfalecido Claude, acompanha Kroll e Cutler. Este último empunha a faca dos Micmac. Quase vinte metros adiante, a poucos passos da margem oposta, a Dama leva Tom nos braços. Aos seus pés, o Reanimado e Ulysses Campbell jazem inertes.

Dama – Vocês não passarão levando meus filhos.
Kroll – Eles não são seus.
Cutler – Os seus filhos, as coisas que criou, estão mortos.
Dama – Resta um deles.

Seus olhos selvagens voltam-se na direção de Green. Os lábios famintos e sombrios não mais que sussurram.

Dama – Isso jamais seria um de meus filhos. O que, se não uma criatura imperfeita, depositaria tamanha confiança naqueles que lhe tiraram a única coisa que o permitia passar-se por humano?
Green – Do que você está falando?
Dama – Rose, sua bela rosa, a flor que eles arrasaram a meu pedido.

Imagens da violência que o As Extremidades abrigou fulminam Green. Claude lhe escorrega dos braços. A razão desvanece. Avança insano sobre Cutler, que responde com punhaladas. A Dama ri diante dos homens que se engalfinham.

Kroll – Como gerou seus filhos? Quem é o pai deles?
Dama – Gerei um mundo para eles.
Kroll – Onde são prisioneiros.

Cutler esquiva-se dos esforços débeis de Green enquanto a velha lâmina desenha cada vez mais fundo em sua carne. Sobrepujando os ferimentos, avança aos empurrões, forçando Cutler contra a margem da ponte e o vazio absoluto.

Dama – Vocês querem roubar os meus filhos.
Kroll – Tom, diga a ela o que sente.

As palavras do garoto não são agressivas, mas ferem, pois levam o oposto de tudo o que ela mais desejou.

Tom – Eu tenho medo de você. Me desculpa!

A Dama solta Tom quando brilham com mais intensidade suas chamas. Não pode olhar para ele.

Recuperado o equilíbrio, Cutler arremete. A faca perdeu-se na escuridão, mas com os punhos ele golpeia para forçar o adversário à margem oposta. Enfraquecido, Green pouco resiste quando o fim se aproxima. É engolido por trevas que consumirão até a lembrança de quem foi.

A Dama volta-se aos filhotes junto à ponte. Ajoelha-se e abre os braços.

Dama – Venham para sua mãe!

Seguidos por Mogli, os filhotes avançam correndo. O garoto olha na direção de Kroll enquanto todo o grupo passa ao largo do abraço.

Kroll – Eles são livres agora.

A ponte estremece diante do ódio imensurável. A rejeição impede que lute. Chora e soluça dolorosamente. Como seu desejo desfeito, rui a estrutura que unia realidades.

Culter e Kroll apenas têm tempo de carregar o Sr. Claude antes de tudo desfazer-se sob seus pés. Na margem, Tom, Mogli e os filhotes olham estarrecidos.

Este é o último sonho que sonhariam, na fria borda da colina, vagarosamente passando através da Sebe.

Dele jamais saberemos se despertarão.

FIM.