Capítulo 1 - O Abraço

Originalmente publicada em RPG Station


Viena, 1892.

As ruas estão frias. Meu casaco não consegue manter o corpo inteiro aquecido enquanto caminho Innere Stadt adentro. O centro estava bem quieto para aquela hora da noite."Frederik, seu desgraçado!! Custava me encontrar no Donauzentrum?". Vou caminhando rapidamente, olhando para o chão evitando um possível tropeção em alguma pedra mal colocada na calçada. Enquanto ando, observo os muros das casas. Eles me cercam e me parecem negros e nada convidativos. A escuridão tenta me envolver ao mesmo passo que as luzes das lamparinas diminuem, então aperto o passo. Não contente, o vento passa por entre as folhas das árvores, produzindo sombras bizarras entre a névoa que já estava formada. Me distraio com uma folha que caindo e me assusto com um gato cruza meu caminho. Estava decidido: era a última vez que iria ajudar Frederik em suas sandices! Quando nos encontrássemos, faria questão de mostrar o que é a fúria de uma mulher, ah, se faria!

Distraída com meus pensamentos e preocupada com aquela escuridão que consumia cada vez mais meus passos, não escutei uma movimentação ao meu redor, mas senti um arrepio e um frio no estômago que me deixa completamente alerta. Olho para trás, mas não há nada. Olho para os lados e só vejo muros. Uma casa mais à frente tem a porta fechada bruscamente, o que me faz pular. E logo em seguida, silêncio. A única coisa que escuto é minha respiração acelerada. Com um pouco de medo, decido me apressar. Aperto os passos, mas acabo tropeçando em algo quando dobro a esquina, e acabo caindo de joelhos. 
Ouch!

Apoio minhas mãos no chão tentando me levantar e um par de sapatos masculinos, muitos bem polidos por sinal, surgem diante de meus olhos. De onde ele surgiu? Assustada, tento me afastar ainda de joelhos no chão, mas ele pega gentilmente meu braço, e me ergue. Sinto um choque por todo corpo ao entrar em contato com suas mãos geladas. Desajeitada, tento me arrumar, tirando o cabelo dos olhos e ajeitando a blusa, levantando o rosto timidamente para agradecer, apreensiva, aquele homem misterioso. Mas quando o olho, fico paralisada. Seu rosto é extremamente pálido e seu olhar profundo... os olhos são negros e penetrantes... olhos diabólicos. Me arrepio inteira, mas não consigo desviar o olhar. Medo, medo - saia daqui!! Corra, Anna!! Fuja!! Minha mente grita dentro de mim em alerta total. O meu corpo? Ele não me obedece. Não se mexe de jeito nenhum. Os meus olhos não desgrudam do magnetismo do olhar dele... não consigo escapar daquele mar negro e gelado. Estou dentro do inferno. Eu encontrei o inferno...

Hipnotizada, mas ciente do mundo à minha volta, sinto os dedos gelados tocando o meu rosto, seguindo logo após para o meu pescoço, acariciando com a ponta dos dedos. Tento gritar, mas minha voz não sai. Nunca senti tanto pavor, horror e desespero na minha vida, mas mesmo assim aquele olhar que me deixa em transe me faz sentir que logo tudo estará acabado e ficarei em paz.

Ele entrelaça entre seus dedos de forma singular os meus cabelos, fazendo com que meu pescoço fique totalmente à mostra, nunca deixando de me olhar. Por que não consigo me mexer? Em menos de um segundo, ele deixa de me olhar, abrindo a boca e mostrando duas presas enormes e, quando recobro um momento de sanidade, ele me morde!!! Sinto suas presas rasgando a pele de meu pescoço, violando minhas veias. Espero a dor me consumir, mas isso não acontece... no lugar, sinto um calor percorrer o corpo ao sentir meu sangue sendo sugado por ele. É a minha alma! Ele está sugando a minha alma! Um misto de sensações me percorre enquanto ele me envolve em seus braços e continua sugando toda a vida de dentro de mim. Entro em transe e me entrelaço entre seus braços, suplicando pela sensação eterna de êxtase e pavor. Minha visão fica embaçada e meus sentidos começam a falhar. Está tudo acabado... só vejo escuridão... não consigo mais pensar.

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Sinto um cheiro metálico que me provoca asco e retomo a consciência temporariamente com um choque por todo o corpo! Muita dor!!! Agonia!! percebo que não sinto mais as presas em meu pescoço, nem seu corpo envolvendo o meu. Tento abrir os olhos, sem muito sucesso, mas consigo notar pelo vulto que ele rasga seu pulso e me estende o braço, pingando sangue. O odor invade minhas narinas e avanço como um animal faminto. Eu preciso do sangue!! O líquido quente invade minha boca e meu corpo semimorto começa a reviver. Ao mesmo tempo, a dor de mil agulhas invade todos os meus poros e quero gritar. Sinto o calor de volta, trazendo todo o transe novamente, só que mais intenso. Sinto a presença dele dentro de mim, como um choque. Desmaio em seus braços.

É o fim.

Não, não é o fim.

O sangue está inquieto dentro do meu corpo. É um novo começo... mas antes, eu me afundo em uma escuridão cheia de pesadelos.

E o último pensamento consciente, antes de me entregar definitivamente à escuridão: Frederik, seu desgraçado!!Custava me encontrar no Donauzentrum?





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O Autor

umpesadeloruivo

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