História Engenho Madalena

Introdução. 
    O período colonial sempre causou fascínio, a aura de uma época antiga, mais simples, também se emaranha com ideias de histórias de aventuras por um mundo desconhecido e virgem. Mas tirando o lado floreado da história, diferente de intrépidos colonos, corajosos desbravadores e fervorosos cristãos, o mundo colonial foi um período brutal, onde a vida tinha pouco valor. Essa é uma época crua, da espada e do açoite, do açúcar e da das correntes onde o sagrado e o profano convivem, e muitas vezes trocam de papéis...  
    Nos centros urbanos escravos são massacrados e humilhados, tendo sua humanidade violada, vendidos como mercadorias nos mercados públicos. Enforcamentos e execuções são uma coisa comum aos cidadãos da cidade, sinhá, escravos, homens livres, transitam pelas ruas, largos e praças sob a ameaça de corpos atados cordas balançando ao sopro do vento. Pestes e doenças desconhecidas afloram repentinamente levando cinquenta, cem, duzentas almas de uma só vez, como se a própria morte caminhasse pelas ruas das cidades e vilas. 
    No campo, animais selvagens caçam e se alimentam dos desavisados e descuidados nas trilhas que beiram as matas e nas noites escuras. Índios vingativos emboscam colonos para cobrar seu quinhão de vingança, nas senzalas escravos que não tem nada mais a perder planejam a vingança contra seus feitores e patrões. Nos salões opulentos das casas grandes a devassidão, gula, orgulho desmedido e avareza corroem os homens que se apegam as suas ilusões de superioridade. 
    E para além dos perigos do mundo real, além da mesquinhez, da violência e depravação do homem, há os ocultos. Os homens apenas podem sussurrar sobre sua existência, os padres veem o diabo em todos os lugares temendo por suas almas. Os abastados e burgueses escutam o batuque das senzalas, os sacrifícios, o sangue escorrer pela pedra e imaginam seu próprio sangue a escorrer. Jesuítas contam histórias de pajés canibais lançando maldições terríveis, roubando crianças brancas para seus ensopados macabros. A superstição não é um conceito nesse tempo, as histórias de monstros e demônios são reais, todo bom cristão sabe que o demônio faz companhia aos escravos sem alma, e entre os selvagens canibais, todos sabem do seu apetite por carne humana. Pelo menos é isso que dizem os padres.    
    Mas as vezes, as vezes os padres podem estar certos...  


    Sinopse  

    A História Engenho Madalena se passa no Recife colonial, alguns anos após a saída dos Holandeses da capitânia de Pernambuco. A trama da história gira em torno de um misterioso e mal solucionado crime no engenho que dá nome a história. Os dois senhorios do engenho, o Barão Hermínio Pessoa de Oliveira e sua esposa, Baronesa Madalena Pessoa de Oliveira, foram encontrados mortos, assassinados, em seu próprio leito, na noite em que houve uma fuga em massa dos escravos da senzala do engenho.
    A lógica, e versão oficial dos fatos até então, é que um grupo de escravos fugitivos invadiram a casa grande e cometeram o duplo assassinato. A forma como os assassinatos foram cometidos é que causaram horror e pânico a sociedade da capitânia. O casal fora encontrado já morto após toda a confusão da noite da fuga, degolados, com os olhos retirados das orbitas e a boca costurada com corda de bananeira. 
    As bizarras circunstâncias do crime causam um enorme burburinho na sociedade açucareira, causando toda a sorte de boatos, que vão de um esquadrão de escravos assassinos de brancos a espíritos invocados pelas bruxas pretas para vingar os maus tratos dos feitores. O fato do Barão ser amigo pessoal do governador da capitânia agrava mais ainda a histeria que se espalha como fogo na palha seca. 
    Por fim os filhos do barão, herdeiros das terras e fortunas da família Pessoa de Oliveira, a sinhá moça Cecília e o senhorzinho João, de doze e oito anos respectivamente, podem estar correndo risco de vida, pois ao que tudo indica os crimes possam ter motivações de vingança...
    Diante dos boatos, da emergência da segurança das crianças, e também pela conhecida amizade pelo Barão Hermínio, o governador da capitânia exige que a justiça para esses crimes seja exemplar e destaca uma força expedicionária do exército colonial para levar a justiça aos homicidas escravos fugitivos. Mas antes que a força expedicionária possa ser reunida e siga até o engenho para captura dos criminosos, um grupo emergencial deve partir imediatamente para salvaguardar as crianças e acompanhar o último parente vivo do barão (um dos personagens dos jogadores), e se possível, já solucionar o crime e encontrar o rastro dos fugitivos.
    O grupo dos jogadores faz parte dessa comitiva inicial para apurar os fatos, encontrar os culpados.
    
    Tema: A verdade só pode levar a justiça ou a ruína.
    A verdade se esconde em muitos recônditos estranhos, e na história se apresenta em camadas de mistério como uma cebola. A medida que as camadas de segredos são descobertas, outros mistérios em camadas ainda mais profundas surgem para confundir os aventureiros. Apenas no fim da história, em seu clímax, é que os aventureiros terão o panorama completo da verdade que envolve o mistério da história envolvendo os assassinatos.
    Os aventureiros estão envolvidos no mistério por vários motivos, sejam eles pessoais, pelo dever ou lucro, mas sempre devem ter em vista a justiça, e não a justiça dos homens ou do Deus dos homens, mas sim a justiça da alma. Apenas a aplicação da justiça poderá salvá-los, aqueles que desviarem de seu código, terão um fim terrível.
    Outro tema recorrente a história que está presente no mundo colonial é o racismo e o preconceito. Esses conceitos tão arraigados na sociedade açucareira é uma verdadeira problemática, turvando a visão dos aventureiros que podem ter seu julgamento desviado da razão em detrimento de preconceitos.

    Atmosfera: Cortina de fumaça sobrenatural
    Uma aura sobrenatural parece se instalar como uma tempestade negra sobre o Engenho Madalena, os sinais agourentos estão por toda parte. Um clima de medo e expectativa toma conta de todas as almas que habitam o engenho, mas é um medo sem nome, sem rosto. Há a nítida impressão de que há algo de errado, de que forças obscuras parecem atuar nos bastidores dos acontecimentos da história, puxando cordas, manipulando os envolvidos com cordas invisíveis.
    Essa aura de mistério e bruma sobrenatural vai tomando forma a medida que os aventureiros vão desbravando a verdade, até o momento em que a verdade finalmente possa vir à tona, quando finalmente os jogadores poderão solucionar o mistério, e tomar uma decisão que possa trazer-lhes a vitória, ou a ruína.

    Cenário
    Após o domínio holandês, Recife era o centro econômico da capitania, ostentando uma população de mais de 8 mil habitantes, possuindo um grande movimento comercial, graças a seu porto e o embarque e desembarque da frota, encarregada de trazer produtos da Europa e daqui levar açúcar, algodão, fumo, couros, madeiras e outros produtos da colônia.
    A sociedade açucareira começa seu declínio, e uma nova classe, a burguesia comerciante, começa a ganhar força e poder. Nesse período houve um grande aporte de portugueses, em sua maioria aventureiros do campesinato ou da baixa burguesia que vinham tentar a sorte na colônia. Devido à recente expulsão dos holandeses, a coroa portuguesa começa a dar preferência dos cargos públicos a estes portugueses, gerando um verdadeiro cisma entre a aristocracia açucareira colonial e os novos burgueses comerciantes portugueses que se estabeleciam próximos ao porto do Recife.   
    Mas nossa história não se passa nas ruas movimentadas e fedidas de Recife, se passa em um engenho na freguesia de Afogados a meio dia de viajem a cavalo de Recife, ainda que os acontecimentos que por ali aconteçam repercutem em toda a capitânia. 
Nota: Apesar da história ser ambientada em Recife, ela pode ser adaptada a qualquer lugar do brasil colonial facilmente.

  Criação de personagem
  Os jogadores estão livres para criarem personagens de qualquer tipo para a aventura, a intenção não é limitar a imaginação dos jogadores, e sim direcionar o conceito do grupo para a criação de personagens condizentes com a aventura com apenas uma obrigatoriedade a ser preenchida: um dos personagens, por obrigação, deve ser um parente das crianças. Seja um irmão ou irmã bastarda, ou um primo de segundo grau distante, não importa a natureza do parentesco, obrigatoriamente um dos personagens deverá ter um laço de parentesco com as crianças.    Alguns conceitos de personagens interessantes para a história:
    Investigador: O investigador é o perfil de personagem genérico desta história, todos os conceitos de personagens abaixo podem se encaixar como investigador. Mas um dos personagens pode ser a autoridade a ser enviada pelo governador, pode ser um padre, um militar com uma patente mais alta, ou até mesmo um bandeirante ou outro tipo de mercenário.

    - Soldado do exército colonial: O personagem pode ser um soldado, uma espécie de policial colonial da reserva. Esse tipo de personagem é o pão com manteiga da história, pode ter várias habilidades e vantagens úteis para o transcorrer da história. Ele estará no grupo destacado pelo governador para seguir para a o engenho e fazer a proteção das crianças e as primeiras investigações.  
   - Capitão do mato: O capitão do mato é um caçador de escravos, geralmente um mulato ou negro. Um capitão do mato não é um indesejável na sociedade, é mais como um mal necessário. Assim como o soldado o capitão pode ter várias habilidades e vantagens úteis para a solução dos crimes. Odiado pelos escravos como um traidor, e descriminado pelos demais por suas origens e cor da pele, o capitão do mato pode esperar uma vida solitária. O personagem começa com a desvantagem social Cidadão de segunda categoria (negro) + 12 pts. experiência na criação do personagem. O personagem fica com um redutor de -3 em todos testes sociais com brancos.  
   - Padre: Certamente a Igreja terá interesse no caso dos assassinatos, seja para levar algum conforto espiritual as crianças e aos envolvidas, seja para averiguar os boatos sobre feitiçaria. A igreja muitas vezes também tem o poder de julgar certos casos civis nessa época. Por fim a maioria dos letrados dessa época fazem parte do clero, de modo que personagens com inclinações intelectuais se encaixam perfeitamente neste perfil de personagem.

















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O Autor

Ebbers