Foice de Ogham
Quando o cristianismo chegou a Grã-Bretanha por volta do século IX. Os povos da região, que passavam por um período de decadência econômica e moral, enxergaram nos ensinamentos dos missionários cristãos e nas doutrinas de Jesus uma explicação para tal condição. Embora a conversão fosse lenda nos anos iniciais, aos poucos os primeiros cristãos da ilha encarregaram-se de espalhar a palavra do senhor aos seus conterrâneos.
As conversões não eram bem vista por líderes políticos e religiosos locais. Os dois grupos tinham preocupações distintas sobre a mesma possibilidade: a perda de sua posição dentro daquela sociedade. Conflitos entre os membros da velha fé e os cristãos não tardaram a acontecer. No século XI, uma contra ofensiva chegou a obter relativo sucesso, provocando um renascimento das antigas tradições. No entanto esse repentino interesse mostrou-se fugaz e não durou por muito tempo.
Com a Grã-Bretanha devidamente convertida em pouco mais de dois séculos, os seguidores dos antigos ensinamentos tornaram-se reclusos em cabanas isoladas e longe das principais comunidades e rotas comerciais. Vivendo como eremitas em cavernas e sobrevivendo apenas do que a natureza tinha a lhes oferecer esses sacerdotes místicos guardavam contato mesmo entre eles, reunindo-se apenas nos dias de poder, datas que para a antiga crença possuíam significado especial.
Além dos ritos e da troca de experiências; estas reuniões funcionavam como conselhos políticos onde os sacerdotes mais velhos olhavam sobre o futuro. Novos conflitos estavam descartados, embora estivessem cientes de que uma Tempestade abateria a Europa em breve. Era difícil compreender a extensão dos danos causados por ela, a única coisa que sabiam é que sua já fragilizada fé seria novamente enfraquecida. Dispostos a não permitir que a velha fé fosse mais uma vez feita refém os sacerdotes propuseram uma aliança destinada a proteger a crença da destruição. A Foice de Ogham surgiu como resultado destes vaticínios.
As Foices, como eram chamados os membros do grupo, eram selecionados entre os aprendizes mais habilidosos. Inicialmente a Foice de Ogham era encarregada de observar as flutuações cósmicas. Interpretar mensagens deixadas pelas árvores, pelo vento e estrelas. As observações serviam a um objetivo bastante claro, obter informações precisas sobre a Tempestade e dessa forma enfrentá-la. Mas nenhuma previsão conseguiu prepará-los para o que esteja por vir. Quando as primeiras fogueiras da Inquisição arderam na ilha, os sacerdotes entenderam que a Tempestade havia chegado, trazendo não ventos e água, mas madeira e fogo.
Ano após ano, as Foices de Ogham observaram os eventos naturais em busca de pistas que os levassem a se proteger da Tempestade. Agora, o isolamento não era mais uma opção. Ignorando as antigas liturgias que os condenavam a um papel não participativo, estes homens e mulheres, herdeiros da velha fé e das velhas tradições, decidiram que o conhecimento acumulado ao longo de eras sobre a Tempestade deveria ser usado de modo pró-ativo. E assim foi, durante todo o século XII e XIII, promovendo assassinatos e seqüestros de membros do escalão eclesiástico.
Claro que naquela época era difícil para o cristão médio compreender a hierarquia da Igreja, o que dirá um grupo de indivíduos reclusos em cavernas. Tudo o que as Foices de Ogham conseguiram em seus primeiros anos na nova atividade foi incitar o medo em pequenos camponeses com ataques a coroinhas e padres. Grupos de caçadores eram montados para vasculhar as florestas próximas, voltando geralmente com a carcaça de algum animal selvagem como resposta.
À medida que a Igreja tornava-se mais poderosa, maiores eram as incursões da Inquisição. Por mais irrelevante que fossem, assassinatos de padres chamam a atenção e provocam o medo das populações locais que passam a questionar a benção da Igreja sobre suas vidas. Foi neste momento que as Foices de Ogham se viram obrigadas a retornar a reclusão, não por medo de seus inimigos, mas por entenderem que era preciso unir prática contemplativa na qual foram instruídos com as artes de guerra usada pelos inquisidores.
Senda de origem: Acanthus. Na época das conversões cristãs a maioria dos sacerdotes da velha fé pertencia a esta senda. Foram eles os primeiros a sentir a descrença da população local às práticas mágicas. Poções já não curavam com a mesma eficiência, ungüentos levavam o dobro do tempo para ficarem prontos e as antigas celebrações eram convertidas em datas festivas do calendário Cristão.
Ordem de origem: qualquer uma. Embora as Foices possam ser membros efetivos de qualquer Ordem, as Setas Adamantinas e os Guardiões do Véu são aquelas normalmente escolhidas pelos do Legado. A justificativa é bem simples, como Setas, eles aprendem técnicas de combate que podem vir a utilizar contra defensores sobrenaturais das crenças cristãs, enquanto como Guardiões, podem ter acesso a conhecimentos que auxiliarão a causa no futuro.
Alcunha: Poderosos (própria), Moribundos (prejorativa)
Aparência: Um membro da Foice de Ogham normalmente descende de etnias da Grã-Bretanha. Mas ao longo do século XX, esse estereótipo genético perdeu-se à medida que irmãos e irmãs do passado reencarnavam em indivíduos de diversos povos. No Novo Continente, sobretudo nos EUA, é possível encontrar pequenas cabalas de Foices formadas por minorias étnicas como latinos e afro-americanos. No Velho Mundo, por outro lado, membros da Foice são estritamente descendentes de povos nativos das Ilhas Britânicas, sem espaço para estrangeiros.
Histórico: Nos dias atuais, as Foices de Ogham atuam à margem da sociedade dos magos, operando como uma espécie de sociedade secreta. Seu objetivo de reacender a chama das antigas tradições das Ilhas se perdeu com o tempo, tendo-se revertido no assassinato de líderes religiosos. O Cristianismo continua sendo o inimigo principal, embora demais religiões monoteístas também já tenham sentido uma ou outra vez a foice em seus pescoços.
Organização: As Foices de Ogham não possuem uma organização formal. Na verdade, cada grupo de Foices é responsável por programar suas próprias agendas, considerando os ensinamentos das antigas tradições, ou não. O que se tem notado ao longo das últimas três décadas é que algumas cabalas de Foices tem operado como verdadeiros mercenários religiosos, geralmente desempenhando trabalhos para um contratante, mediante pagamento. Os alvos são líderes, monumentos ou santuários religiosos. Em 1993, agentes dos Guardiões do Véu, desbarataram um grupo de mercenários Foices contratados por líderes fundamentalistas da comunidade católica irlandesa para assassinar um dos cabeças do movimento separatista IRA. A ironia do fato, por si só, mostra que os anos de exílio só contribuíram para que as Foices de Ogham perdessem contato com suas próprias origens.
Oblações: Trabalhos em madeira são a forma mais comuns. Estes trabalhos podem adotar qualquer contorno. Artesanato, marcenaria, até mesmo literatura; qualquer atividade que sugira talhar madeira pode ser usada pelos membros do Legado como forma de oblação.
Conceitos: mercenários, fanáticos, fundamentalistas, espiões, membro de sociedade secreta.
Dotes
Os membros deste Legado aprendem desde cedo as habilidades certas que os permitem interpretar os sinais deixados pela natureza e antecipar eventos futuros. Por este motivo o arcano do Tempo é o mais usado pelas Foices de Ogham. Com o passar dos anos, os membros do Legado se viram obrigados a aprimorar também seus conhecimentos no arcano do Espaço, como forma escapar dos seus perseguidores.
Primeiro: Traços de Ogham
Pré-requisito: Gnose 3, Tempo 2
Como o feitiço Vislumbre do Futuro (MoD pág. 247). A Foice é capaz de analisar elementos de uma ação sua e determinar se esta terá um bom ou mal resultado e adaptar a situação de modo a melhorar suas chances de êxito.
Segundo: Vaticínio
Pré-requisito: Gnose 5, Tempo 3
Como o feitiço Adivinhação (MoD pág. 248). Através da análise de sinais deixados na natureza, o mago é capaz de interpretar os mesmos e antecipar uma série de eventos futuros. Tais eventos são mostrados de maneira pouco lúdica e devem – assim como os sinais analisados – ser interpretados.
Arcano Adicional: Espaço 3
Com o uso do arcano do espaço, o mago pode obter informações vindouras sobre áreas distantes. Assim o mago poderia, por meio da analise de sinais naturais num parque em São Paulo, observar eventos prestes a acontecer à quilômetros de distância, em Portugal, por exemplo. As regras normais para feitiço simpático aplicam-se ao efeito.
Terceiro: Semente Correta
Pré-requisito: Gnose 7, Tempo 4
Como o feitiço Profecia (MoD pág. 251). O mago recebe uma dica de como alterar o futuro, talvez para fazer com que uma coisa se realize ou para evitar um acontecimento que ele teme ou sabe que está por vir.