A Máscara Sete Vezes Santificada
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A Máscara Sete Vezes Santificada
Walter
poderia se esquecer, ao menos as vezes. Durante dias sem
fim, quando sua vida estava indo bem. Mas lá fora no
gelo, era impossível, impensável, e, especialmente, quando ele estava perto do
caminho. Por estarem ligados, ele havia tomando o caminho mais longo para casa, e disse a
si mesmo que passaria pelo caminho e olharia, e que seria tão branco como uma
folha de papel em branco. Ele iria para casa
para jantar e ...
Ele viu rastros. Walter pisou no freio, fazendo sua pick-up virar para a esquerda, e após uma habilidosa derrapada ele parou. (Para Walter, dirigir na neve era simplesmente "dirigir.")
O caminho para o Tabernáculo sem nome, supostamente não deveria ter sido usado esta noite. Deveria estar sem marcas como uma consciência sem culpa, mas as pegadas eram claras e obvias - pelo que via, eram rastros de um snowmobile. A estrada não foi feita para passar veículos - nunca. Foi por isso que ele pisou no pedal do freio em vez de apenas acelerar.
Ele estacionou onde sempre estacionava, em um quebra-vento, criado por um aumento irregular das rochas, há uma distância respeitosa do Tabernáculo. Ele amarrou seus sapatos de neve, e após uma hesitação momentânea, ele também puxou seu rifle.
Walter desejou poder correr, mas apenas arrastava-se pelas pedras por um caminho bastante acidentado, uma série peculiar de detritos em uma camada de gelo outrora sem marcas. Ele olhou para as marcas de patins da máquina, à procura de outros rastros, pegadas ... mas não, eles não estavam lá, e ele teria notado antes qualquer sinal de sua passagem, poderia ser ele?
Sob as camadas de Gore-Tex, abaixo da lã e do algodão esta sua própria pele e gordura, mesmo assim seu sangue congelou. Sem nenhuma escolha real no assunto, ele continuou, e logo, ele chegou ao final das pedras. Havia um trecho limpo que leva à colina, e ele seguiu no caminho feito pelo snowmobile direto para a base. Os rastros foram sinistramente limpos. Alguém havia estacionado na base do morro, subindo a trilha de pedras em direção ao Tabernáculo, e caminhando de volta para baixo, e depois dirigindo-se para fora.
O segundo conjunto de rastros só havia descido e não visava a estrada. Eles foram direto para as pedras, para o campo de neve e além, e Walter tinha certeza de que fez uma linha reta como uma lança em direção à sua cidade natal, Qaarsut.
Ele praguejou em ambas as línguas. Até onde ele poderia ter ido? Ele se atreveria a confirmar seus medos mais sombrios? Será que ele enfrentaria os outros, porque não?
Ainda xingando, ele arrancou seus sapatos de neve e subiu correndo os degraus, matinha seu rifle na dianteira. Não que ele pensou que seria algo bom, mas ele não queria deixá-lo para trás na neve.
O Tabernáculo sem nome apareceu como uma rachadura na encosta pedregosa. Deslizando adentro, tudo estava escuro e gelado. Na entrada candeeiros antigos pareciam longos vasos decorativos, feitos a partir de ossos pélvicos de morsa. Nas cerimônias, eles queimavam óleo de baleia, mas foi proibido armazenar combustível no Tabernáculo, por isso Walter usava um pequeno chaveiro de LED.
Mesmo no escuro, sob a luz plana, as paredes brilhavam. Gerações do povo de Walter haviam deixado totens esculpidos em ossos, que para antropólogos não passavam de imagens de deuses e autoridades anônimas. Em ocasiões normais, tudo era centralizado em um pilar de gelo. No topo dessa coluna acomodava-se a dourada Máscara sete vezes Santificada, dentro dela, a figura negra e sombria de um homem morto.
Mas a máscara havia sumido, o gelo foi quebrado, e as pegadas do homem morto foram de seus destroços congelados direto à porta de entrada.
Uma vez que ele estava lá fora, Walter desejou então conversar com a Sacerdotisa Nujalik, mas seria inútil. O telefone celular mais próximo estava na cidade, o seu serviço era irregular, e Walter nunca se preocupou em comprar um aparelho. O terreno em torno da Colina sem nome era comercialmente desvalorizado, por isso ele precisaria, então, de um telefone via satélite para entrar em contato com qualquer um. Havia um rádio amador em sua caminhonete, mas só funcionaria se alguém estivesse escutando.
Ele pegou seus sapatos de neve, respirou fundo, lamentou sem perceber, e partiu em direção às rochas verticais. Ele fez todo o caminho olhando para os lados antes de vê-lo.
Como a noite já tinha caído, a lua estava alta, e a coisa morta era uma mancha na escuridão perturbando o branco inexpressivo da planície. Atrás, a sua trilha era um pequeno rabisco de trevas para a neve que soprava profundamente. Até o momento, a coisa estava forçando sua passagem através de pontos na altura do peito, e em nenhum momento ela ficou de joelhos.
"Neem me niet kwalijk?", Disse Walter, em uma voz que nenhum homem poderia ter ouvido sobre o vento. A criatura não parou, e Walter relutante andou doze passos em sua direção.
"Utoqqatsissutigaa", ele chamou, agora falando Kalaallisut, que eles chamavam de o novo idioma. A coisa continuou, e ele se perguntou se ela o ignorava ou se estava numa busca sem sentido.
"Sefet Qam!" Walter carregava para a frente, os lábios dormentes tropeçavam sobre as sílabas alienígenas que se alinharam aproximadamente para a "Força da pele do crocodilo."
"Eu nomeio e reivindico sua lealdade", disse ele no Antigo Idioma, frases repetitivas que lhe foram ensinadas de forma intermitente durante toda sua vida. "Ao templo e a máscara serviremos, eu ...
"A voz fina de Walter vacilou. Ele tinha parado, e ele tinha se transformado.
Libertados do gelo, as suas órbitas eram poços castanhos. Sua boca era um círculo franzido, alongado pela carne seca. Ele estava nu na neve, todo o tecido havia sido ressecado em pedaços de couro, clavículas e cotovelos e o cume pélvico estavam proeminentes em sua silhueta.
"Quem você nomeia, você ficará no meu caminho?" A voz era seca como um túmulo, mas falava perfeitamente Inglês. "Se você é um servo do templo, o nosso compromisso mútuo excede a minha lealdade a você ou a sua para mim."
"Eu ... só falo holandês e Kalaallisut." Walter agarrou o rifle como uma criança com um bicho de pelúcia.
"De Heilige Masker," Sefet Qam respondeu na mesma língua. "Está feito, e eu sou um surgido. Você sabe quem violou o templo? "Walter balançou a cabeça. "Mas eu posso ajudá-lo a procurar", disse ele. "Eu tenho ... um veículo. E roupas.”
Era difícil ler a expressão em seu rosto antes apodrecido, mas depois de uma pausa, ele acenou com a cabeça e começou a marchar em direção a ele.
Walter forçou-se a virar as costas para o defensor do templo, mas seus olhos não desviaram o olhar. Eventualmente, eles caminharam lado a lado, ele em cima da neve e a coisa morta deslocava-se através dele.
"Sua carruagem sem cavalos é barulhenta", disse o guardião do templo, enquanto se moviam pela estrada.
"Peço desculpas".
"Tem certeza de que não podemos simplesmente ir até a Máscara e apanhá-la?
"Walter arriscou um olhar para o seu passageiro e estremeceu. "Por favor, seria melhor se você fosse ... escondido."
"Menos transtorno pra você, você quer dizer." Mesmo naquele frio Sefet Qam de alguma forma conduziu um olhar perspicaz. No entanto, agora havia um brilho na parte de trás do orifício dos olhos, como se algo estivesse descongelando lá.
"Nós podemos fazer imagens bem rápido. Não seria bom para as pessoas que uma imagem sua fosse parar por aí ".
"Po-laroid", disse o homem morto. "Eu conheço essas imagens."
"Eles estão melhorando desde o último despertar."
"Quantos anos desde ... o ano Inglês, 1963?"
"Agora é o ano de 2012". Walter arriscou outra olhada. "E seu último despertar foi em 1983. Você não se lembra?"
"Eu ... não. Ainda não. "
Eles foram descendo, acompanhados por um silêncio constrangedor até chegarem a casa de Walter, na periferia da cidade. "Nós vamos agrupá-lo para que você possa passar", disse Walter. "Ninguém está na minha casa, então estaremos a salvo."
"Se ninguém está lá, quem abriu a portão", perguntou Sefet Qam, apontando para a porta da garagem.
"É um dispositivo elétrico", disse Walter.
"Como a lâmpada sem chama." Sefet Qam balançou a cabeça, o que Walter assumiria espantado.
Rapidamente, o cadáver animado foi compactado em macacões Carhartt, galochas, e um par de luvas grossas de lã. Um lenço, gorro e óculos de sol completaram o seu disfarce. Walter foi surpreendido por um sentimento de alivio, visto que um traje rudimentar havia coberto aquela nudez murcha e antinatural.
"Você pode sentir a máscara?"
"Eu posso ... sim, mas temos que nos apressar."
Walter havia saído por aquela noite com muita neve, estava cada vez mais inquieto. Ele já havia tentado, do telefone de sua casa contatar Nujalik, mas a única coisa que conseguia era um sinal de ocupado. Tornava-se claro que os gestos mudos de seu aliado os direcionava para a casa dela.
"Você se lembra de Nujalik", perguntou Walter.
"Não."
"Mas ... ela é a Grande Sacerdotisa", disse Walter, perguntando-se como a criatura poderia ter esquecido de 1983, uma noite que não saia da memória de Walter – quando o guardião foi chamado de seu túmulo para escolher entre Nujalik e Walter para ser o novo líder de sua fé; Walter havia falhado, e na ocasião, aproximara-se com um grito, deixando Nujalik como Alta Sacerdotisa dos Fiéis por omissão.
"A relíquia está ai dentro", disse o homem morto, logo após a caminhonete ter parado. Walter tentava sua chave e franziu a testa, quando estava tentando novamente, Sefet Qam empurrou-o gentilmente para o lado. Com a mesma gentileza, o cadáver ambulante puxou a maçaneta da porta causando uma rachadura e fazendo a madeira ceder.
Walter ficou de boca aberta. A porta havia sido arrombada e, agora ele podia ver, o que estava trancado por uma fechadura recém instalada.
"Alguma coisa está errada", disse ele, mas Sefet Qam nem se deu conta; apenas se apressou a subir os degraus, enquanto isso Walter se esforçava para colocar a porta de volta em algo parecido com uma posição fechada, deixando a logo em seguida pois havia ouvido discussões no andar de cima.
Ele ouviu um estrondo e depois o impacto de um copo que balançou as luminárias acima. Ele começou a correr e não parou até que ele viu a Máscara sete vezes Santificada, descansando pesadamente nas luvas emprestadas por Walter com o cadáver a contemplando.
Deitado no chão, sem camisa, estava outro homem, sangrando muito pelo nariz e boca. Com um pouco de chiado, Walter se aproximou e percebeu que a cabeça do homem não era mais uma simples cúpula, marcas de dentes e sangue estavam sobre o couro cabeludo. "O que você fez?" Walter engasgou.
"Pagou o preço. No entanto, agora eu me pergunto ... terminei minha missão? "
"Você o matou!"
"Sim. Acho que era para. No entanto, quando eu fiz a relíquia sair debaixo da cama onde ele havia escondido, o homem ficou boquiaberto de espanto. Foi só quando ele tentou lutar que eu o atingi ".
"Ok", Walter murmurou, incapaz de parar de olhar para a figura imóvel no chão. "Ok, o chefe de polícia é um de nós ... este homem, ele é estrangeiro ..."
"Português, eu suspeito," Sefet Qam acrescentou, voltando-se a máscara de ouro em suas mãos.
Walter olhou para cima bruscamente. "É isso mesmo, ele é um ... era um cientista. Ele disse que estava pegando amostras do gelo, mas todo mundo sabia que ele estava realmente procurando rubis ... "
"Ou ouro", perguntou Sefet Qam, colocando a máscara sobre a mesa, pesadamente. Neste momento ele já sabia que a relíquia era falsa - uma tentativa de esconder o roubo da verdadeira Mascara (apenas o necessário para ganhar um tempo precioso), mas não disse nada.
"Ele está aqui há quase um ano. Se ele sabe para onde a máscara foi, por que ele esperou tanto tempo antes de roubá-la? "
"Talvez ele tenha levado um certo tempo para seduzir a sacerdotisa." Sefet Qam estava estudando Walter agora.
"Não! Ele era um ... um estranho. Ela não faria isso! "
Delicadamente, o guardião da tumba levantou as pesadas camadas de colcha e cobertor para olhar para os lençóis abaixo. "A menos que as mulheres e os homens mudaram muito nos últimos anos, ela fez."
"E, em seguida, fugiram de vergonha?" Walter não poderia deixar de desprezar o tom de ansiedade na voz. Nujalik sempre zombou ele, desde que ele tinha desonrado a si mesmo, quando ele tinha apenas 18 anos.
O guardião não respondeu, apenas olhou para a máscara reluzente.
"Para onde ela iria fugir", ele perguntou.
"Qeqertarsuaq, talvez. Se ela pegou emprestado um barco de alguém, ou apenas pegou. Ou talvez tão longe quanto Sisimiut, talvez ela queira ir a um lugar grande o suficiente que as pessoas não a reconheçam. Mas por que ela iria fugir? "
"Por que, de fato. Sabemos que ela não está aqui. Vamos verificar seu automóvel ", disse Sefet Qam, usando a palavra em Inglês. Em momentos, eles estavam em sua garagem vazia, o homem morto segurando a relíquia na frente dele, como uma mulher velha com um saco de supermercado.
"Tudo bem ... podemos chamar o chefe de polícia para lidar com as coisas calmamente. Eu vou levá-lo de volta para o Tabernáculo, onde você pode restaurar o tesouro para o seu devido lugar e ... retomar o seu descanso. "
"É assim mesmo? E como você vai encontrar a sacerdotisa traidora? "
Walter baixou a cabeça. "Eu não faço ideia. É ... isso é realmente necessário? Eu acho que seria melhor para os fiéis nunca descobrirem sobre ... "Então, sua voz foi silenciada subitamente, e com uma puxada dolorosa Sefet Qam pegou Walter pelo pescoço, levantando seu corpo do chão.
"Ela contaminou meu lugar de descanso", a voz do cadáver rangia. "Alta Sacerdotisa ou não, ela roubou a máscara, e ela me fez cometer um assassinato. Eu não vou ser usado assim por um mortal. "
Sefet Qam abriu a mão, e Walter caiu no chão, ofegante e segurando seu pescoço.
"Chame os Fiéis", Sefet Qam entoou. "Nós os obrigaremos a procurar. A traidora precisa ser encontrada e levada diante dos juízes do Duat, e receber o julgamento eterno ".
"Mas ... * tosse * ... mas e se as pessoas descobrirem? E se mais forasteiros vierem para Qaarsut? E se encontrarem o Tabernáculo? "
"Então, vamos lutar contra eles ou vamos nos esconder", respondeu a voz implacável. "Eu não estou aqui para protegê-lo, ou o seu povo, ou o seu modo de vida. Você, como eu, serve a Máscara e ao juiz que a colocou sob os nossos cuidados. A diferença é que minha obediência é direta e a sua é uma questão de costume. Somos todos ferramentas do Destino, e sobre esse assunto você deve estar subordinado a mim. "
Sefet Qam levantou a mão pegando seu cachecol. Para o espanto de Walter, sua pele havia se preenchido mostrando cor, que era do morram couro para um seco mas reconhecido homem negro. A criatura retirou os óculos do rosto, revelando olhos castanhos, avermelhados, mas, obviamente, vivos.
"Em breve?" Sefet Qam murmurou, em Inglês distraído. "Temos pouco tempo, Walter. Chamai-os ".
Com Walter ficou em pé e cambaleando em direção à casa, a múmia Sefet Qam falou sob sua respiração imortal.
"E agora, meus pensamentos dispersos unem-se mais uma vez, Walter de Qaarsut. Lembro-me de sua covardia naquele dia, embora meio nebuloso. Veremos se a jovem Nujalik se prova a melhor novamente. "