Entrevista com MC Zanini - As respostas!

por Aramil em

Sei que demorou e que todos (inclusive eu) ficaram esperando dia após dia rezando pra esse dia chegar logo, então, finalmente chegou! A Zanini me enviou hoje as respostas e eu preparei o post para vocês o mais rápido possível, pois acredito que todos estejam querendo logo ver o que ela tem a dizer, certo? Então vamos lá!

Salve, Salve, irmãos de jornada!

O sol está se pondo e a noite traz notícias gloriosas para nós do MdT Brasil: finalmente a tão esperada entrevista. Então sem mais delongas, vamos lá!

 

1 - Conte-nos um pouco sobre seu trabalho com a linha Mundo das Trevas. Como é estar à frente de uma linha que conta com tantos "fãs-corujas"?

Bom, pra começar, vou dar uma ideia do que eu faço. Eu cuido de todas as etapas da produção editorial dos livros da linha Storytelling em português. Seleciono os títulos, converso com a White Wolf sobre projeto gráfico e as aprovações necessárias, escolho os tradutores, ou traduzo eu mesma, supervisiono a preparação e/ou revisão da tradução, a diagramação e a revisão das provas, crio os textos de divulgação, redijo as sinopses para o Ministério da Justiça, mantenho contato com os fãs, respondo dúvidas e perguntas e organizo promoções (quando o tempo permite), e devo fazer mais algumas coisas que agora me fogem à lembrança.

Vou usar um clichê: trabalhar com a linha Mundo das Trevas é, como ser mãe, padecer no Paraíso. O texto é sempre muito difícil de traduzir, ora porque usa recursos literários elaborados, ora porque recorre a um linguajar tão atual que nenhum dicionário o registra. Mas é gratificante, porque desafia o tradutor. E eu adoro desafios. Cada livro é quase uma obra de arte: ilustrações belíssimas e projetos gráficos arrojados. A diagramação dos livros em português é um pesadelo: temos de manter o projeto gráfico original, inclusive o mesmo número de páginas, com um texto 2,5 vezes mais volumoso. Mas dá gosto ver o livro pronto.

Aí temos a recepção dos fãs, que são realmente muito corujas. No começo, confesso que era frustrante me dedicar tanto e, publicado o livro, deparar com uma recepção tão desconfiada. Era um pouco de ingenuidade minha achar que a dedicação bastasse para agradar gregos e troianos. O mundo e as pessoas são mais complexos que isso. OK, algumas pessoas são excessivamente virulentas em suas críticas, e algumas dessas críticas são um pouco descabidas. Mas hoje percebo que boa parte dos RPGistas adora o Mundo das Trevas e quer ver um resultado cada vez melhor nos livros que publicamos em português. Isso me oferece um padrão (e dos mais elevados) para tentar alcançar e manter. Mais um desafio. E minha experiência compartilhando as questões da produção no Twitter tem me agradado bastante. Acho que os fãs estão fazendo ótimas contribuições.

 

2 - De um modo geral, como tem sido a recepção dos lançamentos do Mundo das Trevas por parte do mercado brasileiro?

Não tem sido surpreendente, mas eu diria que é muito boa, dentro do esperado. O desempenho das vendas por ocasião do lançamento costuma ser bom para os padrões da editora, apesar de MdT vender menos que D&D. Várias publicações do MdT estão quase sempre entre os vinte títulos mais vendidos do mês (juntando aí RPGs, HQs e romances), e isso não é pouca coisa. Mas a melhor parte é que os consumidores adquirem as publicações do MdT com constância. Além disso, volta e meia ocorrem picos de venda interessantes, como aconteceu quando Lobisomem: os Destituídos foi parar nas bancas de jornais e revistas de várias cidades brasileiras. E, em 2010, a expectativa é de bater o patamar de vendas de 2008.

 

3 - Na hora de escolher quais suplementos/livros lançar por aqui, quais são os critérios adotados? Há alguma iniciativa que vise ouvir a opinião do público nessa seleção?

Até agora, o que procurei nos suplementos foi: 1. capacidade da publicação de facilitar a vida dos Narradores iniciantes, apostando aí na formação de novos grupos de jogo e, consequentemente, de novos jogadores; 2. capacidade da publicação de despertar o desejo do maior número possível de consumidores, ou seja, livros que tenham informações de cenário ou sistema que possam ser bem aproveitadas tanto por jogadores quanto por Narradores.

Eu gostaria muito de ter a minha disposição uma maneira eficaz e consistente de avaliar o que os fãs de MdT querem, quais títulos eles teriam mais interesse em adquirir, mas desconfio que não tenho. Uma pesquisa de mercado implicaria custos com os quais a Devir não tem condições de arcar no momento. As enquetes pela internet atingem uma parcela pequena do público, e a tendência dos fãs é simplesmente demonstrar, na enquete online, interesse por tudo, imaginando, talvez, que isso nos motive a publicar tudo. Mas sabemos, por experiência, que o público não absorve "tudo".

 

4 - Cidade dos Amaldiçoados: Nova Orleans está chegando nas lojas em breve [na verdade, acabou de chegar], trazendo diferenciais exclusivos em relação à edição original. Como você se sente com mais essa missão cumprida? O que achou do resultado final?

Aliviada! A produção de CdA NO foi tão problemática que vocês nem imaginam. Parece que tudo conspirava para esse livro não sair. Mas, enfim, está aí, nas livrarias, e já começo a receber os primeiros comentários positivos. Eu sou perfeccionista de carteirinha e sempre acho que algo poderia ter saído melhor do que saiu, mas estou contente com a edição que fizemos, mais bem cuidada, em vários aspectos, até mesmo que a original, e feliz por termos conseguido imprimir o pôster com o mapa da cidade e seus principais vampiros. Confesso: não foi bem o pôster que bolamos no início. A ideia original não foi aprovada pela White Wolf por uma questão mercadológica e tivemos de alterar bastante a concepção do projeto. Mas saiu. E isso foi uma vitória.

 

5 - A respeito de Changeling: os Perdidos, como está sendo a tradução deste livro já tão aclamado pelos rpgistas? Você já se arrisca a dar-nos uma previsão de lançamento em primeira mão?

A tradução de CoP tem me dado bastante trabalho, basicamente porque o livro trata de uma cultura quase alienígena para nós, brasileiros, que é esse universo mítico das fadas e dos seres encantados. Não há equivalentes perfeitos na cultura de língua portuguesa para muitas coisas que aparecem em CoP. Por um lado, isso é legal, porque me dá liberdade para criar, mas também me obriga a dedicar muito mais tempo à procura por soluções do que eu normalmente precisaria dedicar.

Eu tenho planos para tentar acelerar a produção de CoP, sem sacrificar a qualidade, mas, por enquanto, não tenho uma previsão certa para o lançamento, além de um vago "primeiro semestre de 2011".

 

6 - Os fãs de lobisomem estão preocupados desde que foi dada a impressão de que não teríamos novidades para a linha no Brasil. Não existe a chance de serem lançados ao menos os 'The Pure' ou 'Territories' (o primeiro está esgotado lá fora e o segundo trata de um tema muito relevante para o cenário)?

Não descarto a possibilidade, principalmente no caso de The Pure, mas eu diria que a chance de vê-los em português EM BREVE é pequena. Às vezes tenho a impressão de que Lobisomem: os Destituídos é tão completo que dá muito pano para a manga antes de Narrador e jogadores virem a precisar de suplementos.

 

7 - Existe alguma expectativa/plano de tradução dos livros de Coalizão e de Clã de Vampiro: o Réquiem? Falando neles, alguns jogadores afirmam que esses suplementos seriam mais úteis e melhor explorados do que Cidade dos Amaldiçoados: Nova Orleans, livro escolhido pela Devir para a linha de Vampiro. O que você acha disso?

Sim. Eu gostaria muito de publicá-los. É o tipo de suplemento que sempre teve boa aceitação aqui no Brasil e acho que são boas apostas. Mas minha preocupação principal, por ora, são os básicos, ou corebooks.

CdA Nova Orleans foi escolhido por um motivo: quando assumi a linha Storytelling, muita gente ainda estava jogando Storyteller e desconhecia o novo Mundo das Trevas. E uma boa parte desses jogadores e Narradores parecia relutante em adotar o novo sistema e os novos cenários. Cedo ou tarde, alguns deles fariam a migração. Mas eu não podia contar só com eles. Tinha também de procurar um novo público. RPG é um hobby que depende muito de uma iniciação, de jogadores antigos que aceitem pegar os novatos pelas mãos e apresentar-lhes o jogo. Se esses jogadores mais experientes ainda estavam jogando Storyteller, minha esperança era atingir o Narrador novato, o carinha ou a garota que entrou na loja, gostou da ideia, comprou e leu o livro e resolveu montar uma trupe para jogar com ele ou ela. Os cenários prontos, como CdA NO, podem facilitar bastante a vida desse Narrador novato. Daí a escolha, lá atrás, em 2008. Hoje, eu não sei. Vou ter que esperar para ver a recepção do público a CdA NO e ver se vale ou não a pena investir em outros cenários prontos, como Hunting Grounds: the Rockies, Boston Unveiled ou WoD Chicago.

 

8 - No mais, quais outros títulos são prováveis futuramente? Hunter: the Vigil estaria nos planos? E como está o trabalho em Second Sight?

Acho que, publicado CoP, não existem muitas escolhas fáceis daí em diante. Sabemos que os livros básicos têm um público mais ou menos cativo, mas a produção desses livros também é muito mais custosa. Promethean, Hunter e Geist são apostas arriscadas. Se for para escolher um deles para começar a me arriscar, ou fazer um teste, eu diria que Hunter pode ser uma boa.

Second Sight já está praticamente todo traduzido, por Fábio "Sooner" Macedo, do WoD Brasil News. Mas eu só vou botar as minhas mãos no texto quando terminar a tradução de CoP. E ainda tenho outra coisa na fila, antes de SS: a reimpressão ou reedição de Vampiro: o Réquiem.

No momento, em termos de absorção pelo mercado brasileiro, acho que os suplementos da linha básica de Mundo das Trevas são as melhores apostas, títulos como Armory, WoD Mirrors, Book of Spirits etc.

 

9 - Como você analisa o papel do público rpgista na manutenção e na expansão do hobby, seja em sites, blogs e clubes locais? Existe por parte da Devir interesse em oferecer apoio de alguma forma às iniciativas do público?

Para manter e expandir o hobby, o RPGista é TUDO. Desde que o pen-and-paper RPG surgiu como hobby, acho que é um fenômeno limitado a um subgrupo da sociedade. Não é todo mundo que gosta de contar histórias interativas (nada de errado com quem não gosta). Às vezes aparece uma “bolha”, e o número de aficionados aumenta, mas, em geral, por ser uma atividade caseira, que pede um ambiente aconchegante e não muito barulhento, parece que jogar RPG sempre volta às origens: à sala de estar ou jantar, à mesinha da cozinha, refrigerantes, salgadinhos ou pizza. E, claro, ao número mais restrito de praticantes.

O RPGista tem o poder de manter o hobby circunscrito a pequenos grupos ou de espalhar o RPG por aí, no boca a boca ou, como eu gosto de dizer, com a iniciação de novas pessoas na prática. É só ir jogar na praça, no parque, na biblioteca, no Diretório ou Centro Acadêmico, na salinha do Grêmio Estudantil, num centro cultural, numa lanchonete etc. E aceitar, com prazer e responsabilidade, a incumbência de apresentar o hobby ao curioso que passa pela trupe e pergunta: “O que é que vocês estão jogando?”.

Eu não sei dizer se os blogs e portais ajudam a expandir o RPG dito “de mesa” (imagino que sim), mas eles certamente estimulam discussões e a troca de ideias, divulgam cenários e sistemas, formam comunidades em que os RPGistas podem ajudar uns aos outros. Isso me parece importante para a manutenção do hobby. Mas eu ainda sinto falta de resenhas críticas, com opiniões fundamentadas no que se lê, no que se joga e numa “teoria” dos RPGs, e não apenas em gostos pessoais. Acho que a crítica, quando bem feita, é importantíssima para a evolução do hobby.

A Devir tenta apoiar as iniciativas dos fãs na medida do possível. Tenho certeza de que ainda é pouco, mas é o possível, por ora. Nosso website tem um bom tráfego mensal, por exemplo, e andamos trocando banners com blogs e portais mantidos por RPGistas, para dar uma força à visitação desses websites. Mas somos uma editora relativamente pequena e nossos recursos humanos estão no limite da capacidade de suporte. Daí que às vezes é difícil tocar certos projetos. Por exemplo, adoraríamos fomentar a formação e manutenção de clubes de RPG Brasil afora, clubes que reunissem as pessoas para jogar regularmente, trouxessem novos jogadores etc. Mas hoje não temos como designar funcionários para cuidar especificamente de algo assim.

 

10 - Agradeço muito pela sua participação no nosso site, que tem espaço sempre aberto a você! Para finalizar, deixe algumas palavras pra galera do MundoDasTrevas.com!

Eu é que agradeço todo o apoio que vocês dão ao Mundo das Trevas, seja o Storytelling ou o Storyteller, e ao nosso trabalho. Vocês são o RPG. Nossos livros são só a plataforma que dará um impulso a mais aos voos da imaginação que vocês estão criando, juntos. Voem alto. Voem com prazer.

 

E essa foi a entrevista com a Zanini, editora da linha Mundo das Trevas na Devir. Espero de coração que tenham gostado pois deu bastante trabalho, tanto pra mim quanto para ela, pra organizar tudo direitinho e trazer isso para vocês. Tenho mais novidades que acredito que TODOS vão gostar bastante, mas isso vou deixar para um próximo post, afinal, é uma surpresa minha para vocês. ;)

Sigam sempre nas sombras,

- Aramil