Capitulo 1: A Rodovia
A dois meses atrás eu estava viajando de férias com meu filho Josh, de apenas oito anos. Seguíamos pela rodovia 495, Long Island Expy a apenas alguns quilómetros de Isben Court Park. Havia prometido a ele que antes do fim das férias o levaria para conhecer o parque. Faltavam apenas algumas horas para o pôr do sol e de onde estávamos tínhamos uma vista privilegiada. Os raios de sol refletiam nas poucas nuvens que haviam naquele fim de tarde. Paisagem digna de um artista.
Haviam poucos carros na estrada. Somente um sedã na minha frente e uma moto com dois passageiros a minha esquerda. Meu filho não parava de se mexer no banco traseiro, o que já estava me deixando puto, então me virei pra tentar mantê-lo quieto e foi quando percebi que um ônibus se aproximava em alta velocidade. Puxei o carro pra direita tentando abrir passagem e ele passou levando parte do meu retrovisor. Tudo aconteceu muito rápido. O ônibus entrou na contramão e deu de frente com um caminhão que vinha no sentido contrário. O impacto fez o caminhão tombar, derrubando enormes galões de gasolina e bloqueando parte da rodovia. Todos pararam. Um dos rapazes que estavam na moto desceu e tirou o capacete. O ônibus era daqueles típicos escolares, amarelo. Na hora nem pensei direito. Na verdade, quem pensa? Mandei meu filho esperar no carro e corri na direção do acidente.
Enquanto me aproximava, tentei ver alguma movimentação de dentro do ônibus e vi que o dono do sedã fazia a mesma coisa. Tinha um rapaz perto da porta traseira. O garoto estava desesperado, gritando por socorro. Tentei acalma-lo enquanto o outro forçava a porta. Dei a volta no ônibus correndo em direção a entrada da frente e vi o motorista debruçado sobre o volante. Chamei por ele algumas vezes na tentativa de recobrar a sua consciência, mas não obtive sucesso. Não sei se tava morto. Nunca vou saber. Forcei a porta da frente tentando abri-la e foi quando eu o vi pela primeira vez. Ele era alto, cabelos escuros na altura dos ombros e branco. Mas não era um branco do tipo que não vê um sol a muito tempo. Era branco tipo aqueles bonecos de cera que a gente encontra em galerias e museus. Usava uma roupa de chuva eu acho, com botas e tudo. Ele caminhou entre os feridos. Parecia estar bem apesar do acidente. O homem olhou pra mim e abriu um sorriso. Mas não era um sorriso de alivio ou daqueles que você dá quando tá na merda e tem que se conformar. O filho da puta tava rindo com a situação.
Meus dedos já estavam doendo com força que usava pra tentar abrir aquela maldita porta. Perguntei se ele estava bem e pedi pro cara me ajudar, mas ele simplesmente não me respondia. Na verdade, nem me deu atenção. Ele foi se aproximando do motorista e pude notar que ele estava armado. Não sabia o que o cara tava pensando, mas certamente não era coisa boa. Lá atrás o pessoal tinham conseguido quebrar as janelas e retiravam alguns dos feridos. Puxei minha arma e apontei pro desgraçado. Mandei ficar parado, juro que mandei. Tentei de alguma forma intimida-lo, mas ele não esboçou nenhuma reação. Ele simplesmente levantou a arma, lentamente, como se desfrutasse cada segundo e eu sabia o que ele ia fazer, sentia sua intenção. Atirei.
Servi dois anos no exército. Tempo suficiente pra perceber que aquilo não é vida pra ninguém. Fui designado para missões de paz no Haiti. Todos os dias subíamos aqueles morros, seguindo ordens e atirando em quem aparecesse na nossa frente. Tudo com aquela velha ladainha de que estávamos “livrando aquele lugar das maças podres”, quando na verdade era somente uma forma de demostrar a superioridade em campo do exército Americano. Missão de paz o caralho. Sempre fui bom em tiro curto. Naqueles becos estreitos era matar ou morrer. Então de uma coisa eu tenho certeza: eu acertei aquele filho da puta. Mas pra minha surpresa a bala passou direto e foi ai que fudeu tudo. Ele atirou nos galões de gasolina e o fogo se espalhou tão rápido que nem deu tempo de correr. Fui jogado longe pela explosão e não sei por quanto tempo fiquei apagado. Quando acordei não conseguia ouvir nada. Me levantei ainda meio atordoado. Vi o ônibus em chamas. Vi pessoas sendo queimadas vivas e podia jurar que mesmo surdo ainda dava para ouvir seus gritos.
Minha audição retornava aos poucos e, de longe, podia ouvir as sirenes dos bombeiros e da polícia se aproximando.