Capítulo 2 - Loucura Líquida

por Nicolas_Salermo em

Após entrar no pub, ele percebe o mesmo movimento de sempre. 
Esse pub em particular sempre lhe agradou por sua decoração rústica de madeira envernizada e metais dourados. Cadeiras negras e mesas com a mesma qualidade de todo o loca. Mas o balcão era seu lugar preferido. A maioria do pessoal que frequenta o pub não ficava no balcão por conta da movimentação agitada do Gery mesmo nas noites mais tranquilas, mas Johann não se importava. Ele só queria paz.
Os frequentadores eram os mesmos de sempre: Casais se divertindo, solteiros paquerando, garçons servindo e Gery correndo de um lado pro outro para melhor atender aos clientes .. Tudo como sempre. 
Infelizmente, a voz também permanecia.

Não beba! - Ela havia escutado essa voz em sua cabeça a noite inteira até chegar lá.

Ele se recompôs por um instante.

Boa noite Gery! - Johann disse. 
Como vai Scott ! Quer o mesmo de sempre? - Gery não puxou assunto com Johann, pois sabe que ele não é de falar muito... Ainda mais com a aparência que ele estava hoje.

Johann sorriu ao escutar "Scott", afinal ninguém sabe seu nome verdadeiro. Todos que o conhecem e também que não o conhece lhe chamam por esse apelido. Esse apelido foi devido à uma brincadeira com relação ao seu gosto exagerado por whisky. Que hoje em dia, combina muito mais com ele ...
Com um movimento rápido o copo estava vazio, mas antes que pudesse pedir outro copo, Gery já havia enchido o mesmo. 
Esta noite eu pago pela garrafa Gery ! - Ele disse com uma voz embargada e pesada.
Tudo bem então. - Gery disse, mas já pensando: "Essa vai ser uma longa noite."

Então ele começou o seu jogo do "vira-vira". Após o terceiro copo, Johann viu algo escrito no espelho acima das estantes de bebida. Mas não era algo escrito a caneta ou com qualquer outro tipo de objeto. Estava escrito como quando escrevemos num vidro quando chove ou quando damos uma baforada no espelho ou quando terminamos de tomar banho. E o expressão de horror ficou evidente no rosto de Johann ao ler o que estava escrito naquele espelho.

- NÃO BEBA! - Parecia como se alguém tivesse subido por trás do balcão através da estante de bebidas que fica presa a parede.

Joahnn sem pestanejar agarrou a garrafa e saiu correndo do pub. 
Gery levou um susto ao vê-lo se levantar tão rápido e ir embora, mas não se importou. Afinal, ele sempre lhe pareceu um homem perturbado ...

Ele corria desnorteado pelas ruas com a única coisa que poderia resolver sua situação. Seu velho amigo Scott 12 anos. "Ele" sim lhe entende e ajuda quando Johann mais necessita. E em cada esquina que dobrava, uma gole era tomado.
Ele correu até chegar a grande praça que ele conhecia nos arredores e se enfiou a dentro. Já era tarde da noite, por volta das 23h e como era uma segunda-feira então o parque estava bem vazio. 
Era tudo o que ele desejava!
Passou com passos largos e apressados pela entrada e ignorando os caminhos de pedra, passando por cima da grama, correu entre arvores. Galhos batiam nele como se quisessem golpeá-lo. Ele correu muito para que a voz não lhe alcançasse, até chegar perto do lago. Deu alguns passos para trás e se sentou olhando a lua no céu. Tudo era perfeito! Seria ali que ele esqueceria de tudo, inclusive de quem ele é e de quem já foi. 
A bebida quente passava por sua garganta com goles generosos e a realidade não era mais tão perturbadora. 
A voz não existia mais! Ele não existia mais! Nada existia... 
Em algum momento naquela noite, por algum acaso, ou seja, lá como se chama isso, ele ouviu algo vindo em sua direção pelas costas. 
Ele se virou e viu alguém parado. Ele somente conseguia ver a silhueta, mas forçou sua visão até que conseguisse enxergar. Era uma mulher.

- ALISSA !!
 - Ele não sabe se conseguiu falar o nome de sua amada ou somente proferiu mentalmente.

Ela prontamente se levantou da forma que conseguia e cambaleou em direção a ela. Ela abriu os braços e se abraçaram. 
Abraço. Um abraço interminável que poderia durar até sua morte e não reclamaria. 

- Vai ficar tudo bem! - Ela disse com uma voz suave e divina.

Ela o soltou rapidamente e enfiou a mão no bolso. Ao retirar a mão, não tinha nada nela. Mas rapidamente ela recolheu a manga até altura do cotovelo de Johann e passou a sua mão. Deixando uma mancha negra no formato de sua mão.

- Você vai fazer parte de algo muito maior!
Ela se distanciou e correu.

Johann tentou correr, mas suas pernas não responderam e caiu na grama. E de lá não conseguia se levantar. Estava fraco e tonto como nunca esteve. Não pela bebida que o entorpecia, mas por conta de sua amada ter partido mais uma vez sem ele.


- ME LEVA CONTIGO!
 - Ele gritou num urro de ira e tristeza. 

Então se pôs a chorar ainda mais do que todas as outras noites.

Durante sua fraqueza mais algo havia de visitá-lo naquela noite.
Ao se dar conta disso ele parou e observou. Haviam cinco sombras a sua volta. E aquela noite se tornou mais escura do que nunca. E seu destino havia sido traçado fora do que ele conhecia mais uma vez.

E pela segunda vez naquela noite, Johann e o mundo não existiam mais.