Capítulo 2 - Loucura Líquida
Após entrar no pub, ele percebe o mesmo
movimento de sempre.
Esse pub em particular sempre
lhe agradou por sua decoração rústica de madeira envernizada e metais dourados.
Cadeiras negras e mesas com a mesma qualidade de todo o loca. Mas o balcão era
seu lugar preferido. A maioria do pessoal que frequenta o pub não ficava
no balcão por conta da movimentação agitada do Gery mesmo nas noites mais
tranquilas, mas Johann não se importava. Ele só queria paz.
Os frequentadores eram os mesmos de sempre: Casais se divertindo, solteiros
paquerando, garçons servindo e Gery correndo de um lado pro outro para melhor
atender aos clientes .. Tudo como sempre.
Infelizmente, a voz também permanecia.
- Não beba! - Ela havia escutado essa voz em sua cabeça a
noite inteira até chegar lá.
Ele se recompôs por um instante.
- Boa noite Gery! - Johann disse.
- Como
vai Scott ! Quer o mesmo de sempre? - Gery não puxou assunto com Johann, pois
sabe que ele não é de falar muito... Ainda mais com a aparência que ele estava
hoje.
Johann sorriu ao escutar "Scott", afinal ninguém sabe seu nome
verdadeiro. Todos que o conhecem e também que não o conhece lhe chamam
por esse apelido. Esse apelido foi devido à uma brincadeira com
relação ao seu gosto exagerado por whisky. Que hoje em dia, combina muito
mais com ele ...
Com um movimento rápido o copo estava vazio, mas antes que pudesse pedir outro
copo, Gery já havia enchido o mesmo.
- Esta noite eu pago pela
garrafa Gery ! - Ele disse com uma voz embargada e pesada.
- Tudo
bem então. -
Gery disse, mas já pensando: "Essa
vai ser uma longa noite."
Então ele
começou o seu jogo do "vira-vira". Após o terceiro copo, Johann
viu algo escrito no espelho acima das estantes de bebida. Mas não era algo
escrito a caneta ou com qualquer outro tipo de objeto. Estava escrito como
quando escrevemos num vidro quando chove ou quando damos uma baforada no
espelho ou quando terminamos de tomar banho. E o expressão de horror ficou
evidente no rosto de Johann ao ler o que estava escrito naquele espelho.
-
NÃO BEBA! - Parecia como se alguém tivesse subido por trás do balcão
através da estante de bebidas que fica presa a parede.
Joahnn sem pestanejar agarrou a garrafa e saiu
correndo do pub.
Gery levou um susto ao vê-lo se levantar tão
rápido e ir embora, mas não se importou. Afinal, ele sempre lhe pareceu um
homem perturbado ...
Ele corria desnorteado pelas ruas com a única
coisa que poderia resolver sua situação. Seu velho amigo Scott 12 anos.
"Ele" sim lhe entende e ajuda quando Johann mais necessita. E em cada
esquina que dobrava, uma gole era tomado.
Ele correu até chegar a grande praça que ele
conhecia nos arredores e se enfiou a dentro. Já era tarde da noite, por
volta das 23h e como era uma segunda-feira então o parque estava bem vazio.
Era tudo o que ele desejava!
Passou com passos largos e apressados pela
entrada e ignorando os caminhos de pedra, passando por cima da grama,
correu entre arvores. Galhos batiam nele como se quisessem golpeá-lo. Ele
correu muito para que a voz não lhe alcançasse, até chegar perto do lago. Deu
alguns passos para trás e se sentou olhando a lua no céu. Tudo era perfeito!
Seria ali que ele esqueceria de tudo, inclusive de quem ele é e de quem já foi.
A bebida quente passava por sua garganta com
goles generosos e a realidade não era mais tão perturbadora.
A voz não existia mais! Ele não existia mais!
Nada existia...
Em algum momento naquela noite, por algum
acaso, ou seja, lá como se chama isso, ele ouviu algo vindo em sua direção
pelas costas.
Ele se virou e viu alguém parado. Ele somente
conseguia ver a silhueta, mas forçou sua visão até que
conseguisse enxergar. Era uma mulher.
- ALISSA !! - Ele não sabe se conseguiu falar o nome de sua
amada ou somente proferiu mentalmente.
Ela prontamente se levantou da forma que
conseguia e cambaleou em direção a ela. Ela abriu os braços e se abraçaram.
Abraço. Um abraço interminável que
poderia durar até sua morte e não reclamaria.
- Vai ficar tudo bem! - Ela disse com uma voz suave e divina.
Ela o soltou rapidamente e enfiou a mão no bolso. Ao retirar
a mão, não tinha nada nela. Mas rapidamente ela recolheu a manga até altura do
cotovelo de Johann e passou a sua mão. Deixando uma mancha negra no formato de
sua mão.
- Você vai fazer parte de algo muito maior! - Ela se distanciou e correu.
Johann tentou correr, mas suas pernas não responderam e caiu na grama. E de lá não conseguia se levantar. Estava fraco e tonto como nunca esteve. Não pela bebida que o entorpecia, mas por conta de sua amada ter partido mais uma vez sem ele.
- ME LEVA CONTIGO! - Ele gritou num urro de ira e tristeza.
Então se pôs a chorar ainda mais do que todas as
outras noites.
Durante sua fraqueza mais algo havia de
visitá-lo naquela noite.
Ao se dar conta disso ele parou e
observou. Haviam cinco sombras a sua volta. E aquela noite se tornou mais
escura do que nunca. E seu destino havia sido traçado fora do que ele conhecia
mais uma vez.
E pela segunda vez naquela noite, Johann e o
mundo não existiam mais.