Capítulo 1 - As Mãos que Não Estão Lá...
Charlotte conduzia apressada pelas ruas de Londres. Apesar de seu fusca ser usado, ela o matinha conservado e em ótimo estado.
Chegando ao tabloide, ela suspirou. Sabia que seu ganha pão não era exatamente o tipo de trabalho que gostaria. Ainda mais, nesse tabloide sensacionalista e imoral. Achava até que se talento com as fotos estava sendo subestimado, mas não tinha muita escolha. A comida não pula direto pra mesa.
Passou pela recepção, entrou no elevador até o andar de seu chefe.
E ouviu sua "linda voz" assim que entrou em sua sala:
Ele não gritava, mas era rude. Lembrava muito aquele chefe carrasco que o homem-aranha tinha nos quadrinhos. E ela estava cansada de tentar dar desculpas e discutir, então dessa vez pôs-se somente a ouvir.
- Pois bem! Já que chegou, não percamos tempo! – Ele disse com seu tom costumeiro.
- Houve um grave acidente não noite de ontem no centro. Um carro se chocou violentamente contra um poste. Os bombeiros ainda estão tentando retirar o motorista morto das ferragens e quero que você tire algumas fotos.
Charlotte não aguentava essas fotos de acidentes graves. Isso lhe dava nojo.
E ele continuou:
- Mas finalmente algo bizarro aconteceu que acho que vai lhe agradar nesse serviço. – Os olhos de Charlotte brilharam por um instante.
- As mãos do motorista não foram encontradas. – Ele disse com um tom de filme de terror classe C.
- As equipes não sabem ao certo, mas parece que suas mãos foram retiradas antes da batida. Mas como um homem dirigiria sem as mãos? – Ele a indagou.
Charlotte finalmente ficou interessada com algo que esse tabloide iria cobrir.
- Bom, depois de você tirar fotos do acidente, quero que você tire fotos dos locais e outras coisas peculiaridades que a polícia e a perícia talvez não tenham encontrado. Agora vá e não perca mais tempo! – Ele cortou o clima enigmático com um grito apressado.
Charlotte regulou a lente de sua câmera ainda dentro do carro pensando em que tipo de coisas poderia encontrar no dia de hoje.
Chegando ao local do acidente podia-se ver a faixa da polícia cercando o local, três carros da policia, incluindo da perícia e duas dúzias de curiosos. Ela se embrenhou no meio deles e começou suas fotos. Um homem caucasiano havia batido bem em cheio no poste, mas estava em bom estado para um acidente daquelas proporções. Os piores ferimentos eram o de suas mãos. Na verdade, a ausência delas. Parece que haviam sido cortadas a partir do pulso e ouviu alguns legistas falando que as ferragens poderiam ter cortado ambas... Mas para onde teriam ido?
Havia muita gente no local e ela não conseguia rondar o local próximo o bastante para tirar fotos mais interessantes, então decidiu esperar até anoitecer, pois o corpo já teria sido retirado, os pedestres diminuiriam e no máximo uma patrulha da guarda de transito ficaria no local. Charlotte ficará nas imediações caso algo acontecesse, então somente saiu do carro para almoçar.
A noite chegou e aconteceu quase tudo que havia previsto, menos a os policiais. Havia somente um e tinha saído para comer pelo que parece. Era sua chance. Charlotte se dirigiu para o local do acidente. Não havia nem sequer mais o carro, mas as manchas de sangue ainda estavam lá. Ela tirou duas fotos e reparou em um beco próximo do local. Por conta do alvoroço das pessoas e a faixa da policia ela não pode chegar até lá.
Na entrada do beco ela tirou uma foto e viu um vulto que estava dentro do beco correu ainda mais para dentro. O beco parecia ter um formato de L, então não pode ver quem é.
- Quem é? Quem está aí? – Ela sabia que era uma pergunta clichê e meio estúpida, mas não pôde evitar.
Silêncio. Havia uma porta perto da saída, mas ela estava trancada e fechada com correntes. Charlotte seguiu com passos curtos e leves para dentro do beco com a mão dentro da bolsa. Charlotte tinha um revólver sempre junto com ela caso acontecesse algum problema maior. Conforme adentrava o beco mais nada era ouvido a não ser seus passos. Ela respirava ofegante e nervosa por não saber por que estava fazendo aquilo, mas sua curiosidade lhe mataria se não investigasse mais.
Ao fazer a curva ela viu uma caçamba de lixo e bem mais ao fundo caixas de papelão empilhadas, mas dentro da caçamba ela ouviu ruídos. Ela prendeu a respiração de ansiedade, seu coração palpitava com tamanha força que parece que sairia por sua boca e abriu a caçamba. De dentro dela saíram duas dúzias de ratos. Alvoroçados, eles pulavam pela caçamba e passavam entre suas pernas. Se no outro momento seu coração estava saindo pela garganta, agora ela o havia engolido e caído no seu estomago para dar lugar a um grito abafado por ela mesma. Afastando-se da caçamba com passos apressados, respirou.
Somente o que havia sobrado era aquele monte de caixas de papelões. Antes de recuperar o fôlego ela encarou as caixas e viu que algumas belas balançaram por um segundo. Ela se acalmou ao máximo novamente e segurou com todas as forças o revolver sem tirar da bolsa e andou em direção as caixas. Elas tapavam a sua visão, mas tinha certeza de que havia alguém lá. Ela avançou e mirou a câmera para tirar foto de quem estivesse lá e ao vê-lo sem pestanejar tirou a foto sem nem mesmo ver quem era. Após o flash ela ouviu o barulho de vários passos vindos da entrada do beco. Eram seis pessoas com mantos negros e encapuzados. Ela sacou a arma e mirou na direção deles e eles pararam.
“O que é isso que está acontecendo? Quem são essas pessoas?” – Charlotte pensava confusa do que estava acontecendo.
- O que vocês querem? – Ela perguntou sem receber resposta alguma.
- Se vocês não me deixarem passar eu vou atirar! – Enquanto falava ela avançava na direção deles com passos apressados.
Após passar por eles e fazer a curva para finalmente ir para a rua, haviam mais quatro pessoas encapuzadas. Agora Charlotte estava cercada e não sabia mais o que fazer.
- Saiam todos agora! – Ela gritou, mas nenhum dos quatro se
moveu. Os outros seis ficaram em suas costas parados. Em silêncio e sem fazer
movimento algum.
- Você foi escolhida! – O homem mais alto entre eles disse em alto e bom som.
Charlotte não tinha mais idéias quando viu um dos homens levantar por debaixo do manto uma pistola e apontar para ela.
- Abaixa essa arma! Abaixa! – Gritava em desespero, mas ele não abaixou.
Então sem mais escolhas, atirou. Acertando o homem, mas antes que pudesse saber aonde teria acertado, também foi alvejada. Foi atingida no pescoço, mas sentiu uma picada. Ao levar as mãos na nuca, retirou o que parecia ser um dardo. Sua audição ficou distante, seu corpo mole e sua visão escureceu.