Primeiro Tomo - Internação

por Alanuska em

Primeira parte de uma história pensada, a princípio, como testemundo de um personagem acometido por estranhos sonhos...

Centralia, Pensilvânia, 13 de abril de 1981.

- Fui internado pela primeira vez no gélido inverno de 1977. Nevava o tempo todo em West River, e eu tinha 17 anos. Lembro-me nitidamente das palavras que gritei, implorando para que não fizessem aquilo comigo; lembro-me dos rostos endurecidos dos vizinhos, da indiferença natural dos pássaros que cantavam sob as árvores em meu jardim, e mais claro que tudo isso, lembro-me do choro desesperado de minha mãe parada à porta enquanto os enfermeiros me levavam. Devia ser culpa, porque ela mesma encomendara minha internação, mas não sozinha. Seus comparsas preferiram não assistir à deplorável cena de minha derrota, e ficaram dentro de casa, almoçando silenciosamente, crentes e confiantes de que tinham feito o melhor. Eram meu pai e minha irmã mais velha.

    Não me envergonho ao dizer que chorei durante a viagem. Você também choraria se soubesse para onde eu era levado, ou se estivesse em meu lugar. A ambulância especial seguia seu caminho veloz me levando ao outrora pior lugar deste mundo, o Centro de Tratamento Biológico e Psiquiátrico Lauren Parker, que atendia pelo carinhoso apelido de Auschwitz. A comparação com o campo de concentração da Segunda Guerra não era de todo exagerada. Em Lauren Parker eles faziam coisas terríveis com os internos, coisas que os deixavam totalmente “recuperados” das enfermidades mais perigosas da época: a loucura, a homossexualidade e a rebeldia. Recebíamos um tratamento digno dos mais criativos médicos nazistas.

   Eu não era homossexual, tampouco me via como louco, ou rebelde, mas estas duas últimas qualidades foram adicionadas à minha ficha de interno assim que cheguei a Auschwitz. Se minha bondosa família sabia sobre a espécie de tratamento que me aplicariam? Mas é claro que sim, não apenas sabiam como assinaram a papelada de autorização necessária para executar todo procedimento comigo dentro de Auschwitz.

   Não posso negar quão profundamente traído me senti, nem a mágoa corrosiva que alimentei por eles durante todo tempo que estive ali, mas a sociedade os isentou de qualquer culpa, e os apoiou completamente naquele momento de extrema dificuldade que era minha internação. Para a sociedade, eu não passava de um jovem lunático e desordeiro, ferramenta do caos num mundo que devia ser regido pela ordem, e por isso eu seria punido. E, ah, meu amigo, eu fui punido, quão severamente fui!