Parte 1 - Tema e Clima
Belo Horizonte nasceu de um sonho, mas nunca conseguiu que o sonho fosse acabado plenamente. Inúmeros conflitos fizeram deste sonho apenas um rascunho, motivo para equilibrar conflitos políticos.
A Belo Horizonte do Mundo das Trevas ainda reflete modernidade, mas também conflito e elitismo. Sua história é marcada por tradição e traição, conforme os choques de idéias foram sendo equilibrados a custo do mais fraco. Muitas imagens podem ser evocadas sobre a cidade, e nem todas podem realmente simbolizar o que os olhos estão vendo.
As ruas estão iluminadas; as sombras, porém, conseguem encontrar pequenos refúgios que podem crescer como um tumor negro a cada ano. Uma desavença pode ser acertada com o preço certo para cada suborno ou troca de aliados. Um falso moralismo pode exigir humilhações em nome de tradições oportunamente conclamadas diante dos olhares anacrônicos.
Um belo horizonte que esconde segredos e ameaça os curiosos. Regras oportunas nascem e morem à medida que avançamos dentro de suas extensões. A lei do mais forte e do mais esperto exige que Belo Horizonte seja considerada um grande tabuleiro com jogadores cegos.
Os membros da Família de Belo Horizonte estão divididos e a cada ano buscam quitar antigas desavenças habilmente escondidas, uma vez que o status quo deve ser enaltecido ou todos correm o risco de uma proliferação de jovens rebeldes. A maioria está presa ao tradicionalismo, à religião e à política. Antigos hábitos mortais são dificilmente deixados para trás, principalmente sentimento de vingança e poder.
Talvez em nenhuma outra cidade os laços que unem senhor e cria sejam tão fortes quando em Belo Horizonte. A maioria dos condenados é levada a conhecimento de todos e penas são severamente aplicadas. A genealogia de um novato pode garantir sua liberdade ou encarceramento. Cada ato tem um preço dentro da Família.
Por outro lado, o número de segredos, palavras veladas e conspirações podem crescer à medida que a liberdade é esmagada - isto se o novato desejar realmente acompanhar a Danse Macabre nos Elísios. Ele sempre poderá encontrar Anarquia e liberdade verdadeira se aventurando nos territórios distante do opulento centro, assumindo todos os riscos, até mesmo o de não receber nenhuma ajuda quando evocar alguma tradição para a qual ele mesmo virou as costas.
Talvez ele consiga ainda ser apadrinhado nas regiões vizinhas à capital, sempre em busca de aumentar sua influência, ainda que estas sejam apenas uma estrutura antiquada de poder, criada para manter uma falsa sensação de nobreza. A verdadeira corte dos condenados ainda se faz, e provavelmente ainda se fará por muitos anos, presente nos limites do centro de Belo Horizonte, queiram ou não os regionalistas vizinhos.
A fé e o poder são os pilares dos membros ativos e das desavenças dos mais antigos. Uma constante luta entre o antigo e o novo também assombra a Família. Conciliar as tradições imposta pela religião com os constantes debates entre o passado e o novo é um breve passeio pelo paradoxo. Não ficaremos surpresos se encontrarmos quem defenda um, escondendo o apoio a outro. Tudo depende da antiguidade e poder de quem esteja conduzindo o dialógo.
As crônicas narradas em Belo Horizonte seguem revelando segredos, vinganças e desejos egoístas. Sonhos inacabados ou efêmeros. Conforme a maldição segue o passar dos anos, o medo do torpor dos antigos frente à sede dos mais jovens é crescente, assim como o sentimento de liberdade prematuro e inconseqüente dos abastados.
Castelos vão dar lugares a favelas de vielas escuras. Grandes avenidas podem tornar-se subitamente entulho e lotes abandonados. Existe uma dicotomia que exige uma escolha a ser feita, e em muitos casos o preço desta decisão pode ser tão alto quando a eternidade.