Prólogo
Lobisomem: Os Destituidos
Crônica: Sangue e Fúria / LoD – Uma nova vida
Personagem: Katherine, A Ithaeur da sabedoria.
Prólogo
Estrada para Denver, 11h40min da noite, 13° dia do ciclo lunar.
Um carro passava por ali, era listado como um Gol 1998, mesmo antigo parecia em bom estado. Enquanto se dirigia para Denver, uma garota de pele negra, mas olhos e cabelos claros observava o mundo fora do carro enquanto segurava um braço enfaixado. Sua cara não era a das melhores.
- Ainda doendo? - Falava um homem já com a idade avançada dirigia o carro. Ele possuía cabelos castanhos com alguns fios brancos e usava óculos de grau. A jovem olhava para ele.
- Não é todo dia que você é atacado por um lobo, Jorge.
- Já disse que não precisa me chamar assim Katherine, você é parte da família, faz mais de 2 anos que moramos na mesma casa.
- Desculpe pai. Mas, quando a mamãe morreu... - Katherine abaixava um pouco a cabeça. Jorge parava o carro e, olhava a jovem acariciando os cabelos da mesma.
- Não fique assim. Prometi a sua mãe que cuidaria de você, então, que tal um sorvete antes de ir pra casa?!
O vento soprava nas árvores, Jorge não percebia, mas Katherine sim. Um sopro parecido com um sussurro, ela ouvia. Katherine possuía um dom especial, escutar os mortos, mas isso era diferente. Ela sentia.
'‘Não vá, não vá... ''
Katherine olha para fora desconfortante, entretanto não via ninguém.
- O que foi? - Jorge olhava para ela achando estranho.
- N-nada, vamos sair daqui.
- Sorvete? Ou casa?
''Não vá.''
- S-sorveteria! - Katherine balançava a cabeça e respirava fundo.
- Está bem, sorveteria.
Jorge voltava a ligar o carro e dirigia para a cidade. Katherine não sabia, mas sua escolha seria fatal para seu futuro.
- Como vai na igreja espirita? Os mortos ainda lhe apavoram?
- Eles sabem que só podem falar comigo lá, não me atormentam mais quando estou fora.
- O que foi então?
- Eu não sei. - Ela se entrelaçava com os braços. - Só disse para...
Katherine não teve tempo para completar a frase. O carro a mais de 70 km/h, bate. Foram instantes de impacto com algo desconhecido. Após isso a jovem apagava por alguns instantes e momentos depois escuta vozes a acordando.
-- O que é isso? M-me larga! Não, Katherine! Filha fuja! - Os olhos de Katherine abrem, ela ainda estava tonta, mas pode ver claramente a cena: Algo grande, não, gigante com tentáculos comia o seu pai vivo. Os olhos dela se arregalam e, com mãos tremulas, tentava tirar o cinto com o grito de Jorge, desesperado, no outro instante morto. Ela iria ser a próxima se não fugisse, mas o corpo pouco se mexia. Foi então que algo, mais que adrenalina, no corpo agiu. Ao conseguir abrir a porta, vomitou o que tinha no estomago. O horror de ver o pai ser partido ao meio foi demais para a jovem. Ajoelhou-se por alguns segundos, seu corpo ainda doía do impacto, havia escoriações e ferimentos na face, mas mesmo assim se ergueu e correu para a mata.
- Pai. Pai... - Lágrimas limpavam o sangue da face, mas não podia parar ali e se desesperar. O rugido da criatura era escutado e Katherine via o carro ser jogado a sua frente impedindo a fuga. Ela caia no chão e olhava para trás, a criatura ia a sua direção. Sentia medo, mas algo corria no sangue da garota, algo como: fúria. Ela sentia isso. E ao ver a criatura novamente seus punhos fechavam- e os dentes rangiam.
- V-você matou... MINHA UNICA FAMILIA! - Talvez ela não tenha visto o que segurou, mas foi o suficiente para cortar um dos tentáculos do monstro e o fazer recuar por dor ou sangue. Claro, Katherine não ficou para ver isso, soltou o objeto e correu para a floresta. Ela correu como nunca correu antes. Uma corrida que sentiu o corpo tombar, assim os braços pareciam virar suas pernas, e suas pernas patas. Sentia dores, mas não era das feridas. Algo anormal acontecia, mas não com o monstro que seguia, e sim com ela mesmo. Sentia cheiros, ouvia os sussurros da mata, mas não entendia. Mas a dor. A dor que quebrava seus ossos. Era inigualável.
Katherine caia após tropeçar em uma raiz, rolava a floresta abaixo e só parou perto de um riacho. Atrás dela o rugido da fera a sua procura era ouvido, porém ela não conseguia mais. O corpo não aguentava levantar, a dor era insuportável. Sentia que morreria ali.
Seus olhos seguiam para a margem do riacho e o corpo estremeceu ao notar que não estava sozinha. Algo atravessava as margens correndo. Eram lobos, mas enormes. Talvez estivesse com tanta dor que as ilusões confortariam sua mente. Ela fechou os olhos, sua morte seria ou por lobos ou por um monstro, então aguardaria. Não tinha esperança. Entretanto, sua espera a fez escutar a corrida dos lobos ao seu lado seguido por um toque delicado no ombro.
- Não te preocupes! - uma voz feminina era ouvida. - Está entre amigos agora.
A jovem finalmente abriu os olhos e viu uma mulher alta, de pele branca e cabelos lisos. Ainda tonta, olhou para trás e percebeu que os lobos não a atacavam e sim ao monstro.
- Olhe no reflexo da água! - A mulher exclamou. Katherine fez o que ela pediu. Lá ela podia ver o seu rosto. Não era ela, mas ao mesmo tempo era. Tinha pelos como lobos, mas também formato humano.
- Você agora é uma de nós. E nós lhe aceitamos como você é, um lobisomem!
Katherine escutou as palavras, mas logo em seguida fechava os olhos. Seu corpo desfalecia. Sua mente estava cansada demais para poder entender.
Continua...