Capitulo 1 - Que seja um sonho
Katherine acordava. Em sua memória, um flash do que poderia ser considerado um sonho, já que lobisomens, mordidas e mortes por monstros, seriam esquisitos para serem considerados reais. Entretanto, ao abrir os olhos mesmo com uma fresta de luz vindo da janela interrompendo a visão nítida do ambiente e com dor de cabeça, percebia que estava num galpão, coberta por trajes feitos de pele de urso e sentia uma mão delicada acariciando os seus cabelos.
- Bom dia dorminhoca?! - Uma voz familiar, feminina e doce, era ouvida. Katherine notava a mulher loira à sua esquerda, a mesma que esteve no sonho, se foi um sonho. Ela acariciava os cabelos da jovem e no colo possuía algumas roupas. - Essas roupas eu fiz para você.
- Está com fome? - No outro lado da sala, um homem se apresentava; robusto, de cabelos castanhos e utilizava uma jaqueta de couro preta feita sob medida para seu porte.
Desde pequena, não sabia o porquê, as pessoas tinham medo de Katherine, então elas costumavam a evitar, logo se acostumou. Mas quando viu o homem com as mãos banhadas de sangue e jogando o corpo morto de um veado no chão do local ela recuou, agarrando a pele de urso que a cobria e desejou não se aproximar dele, temendo-o.- N-não... O-obrigado. - ela olhava o redor. - O-onde estou?
- Na sua nova casa! - A mulher tinha um belo sorriso, que estranhamente trazia-lhe reconforto.
- Vocês são sequestradores? - Ela se encolhia ainda mais debaixo do cobertor feito de pele. - Onde está meu pai? - tinha lágrimas nos olhos.
- Seu pai morreu e não somos sequestradores. - Ela ficava olhava-o surpresa: ‘Como ele poderia falar isso... Como se fosse simples?!’ As lágrimas nos olhos da jovem aumentavam, soluços de tristeza tocavam sua boca amargurada, quando sentia a enorme dor no seu peito.
-- Kurt! - A mulher erguia-se irritada e o olhava com raiva, as roupas caiam do colo dela.
- Ela tem que aprender Dana, não se pode ficar apegado a humanos, somos Urathas!
Dana, como Kurt havia a chamado, negava com a cabeça e entrelaçava seus braços na jovem Katherine, que estava em lágrimas.
- Acalme-se menina...
- É mentira... Diga que é mentira!
- Sinto muito...
A jovem retribuía o abraço de Dana com o coração despedaçado.
Kurt olhava as duas, com semblante sério e depois voltava o olhar para o lado. As mãos iam ao bolso.
- Dana, não temos tempo.
Dana olhava para Kurt e parecia entender o que ele havia dito. - Só me dê alguns minutos. - Ela respondia, Kurt afirmava com a cabeça a olhando novamente e dava as costas para sair. Após isso a mulher se voltava para a jovem e tocava na sua face delicadamente. – Katherine, não é?! Sinto muito pelo seu pai, mas precisamos de sua ajuda, se puder se acalmar...Quantos anos você tem?
Katherine soluçava e a olhava. Dana respirava fundo, sempre sorrindo.
- T-ter...ze...
- Você parece tão mais nova... Você é uma Uratha agora, um lobo e um homem. Na mitologia humana, chamam-nos de lobisomem. Mas não era para você se transformar agora.
- C-como assim?
- Para se transformar em um Uratha, é preciso ter sangue lupino. Ou seja, não é qualquer ser humano que pode, ao ser mordido por um e se transformar, você precisa ter os traços sanguíneos da linhagem. Você está entendendo?
Katherine afirmava com a cabeça prestando atenção.
- Você foi mordida por um lobo recentemente?
- S-sim, meu braço. - Ao notar o braço, percebia que estava inteiramente curado. – M-meu braço, a ferida. Está curada. – Katherine olhava assustada para a mulher.
- É uma das vantagens de ser uma de nós, regeneração celular avançada, ou seja, você cura suas feridas bem rápido. Quer dizer algumas. Agora me diga, onde foi que isso aconteceu?
- No acampamento dos estudantes de Denver, foi numa pesquisa geológica. Encontramos lobos, meu grupo ia ser atacado, comecei a jogar pedras e galhos para os outros fugirem, então me atacaram, fui mordida e quando sentiram o gosto do meu sangue, recuaram, fugiram quando ouviram a espingarda do meu instrutor. – Katherine pausava um pouco, parecia encucada com algo. - Pode ser loucura, mas eu podia jurar que eles falavam uns com os outros em seus grunhidos.
- Tudo que você vê ou ouve agora pode ser verdade. Vai depender de que verdade você deseja.
- Hã?! – A jovem olhava para a moça, não entendendo a frase.
- Depois entenderá, descanse, vou preparar para você algo para comer. – Tocava no nariz da jovem devagarzinho e depois se erguia, esticando as costas. – Ah, só mais uma coisa, tem algum parente? Familiar?
- Não, fui adotada por Jorge e Amelly, os dois faleceram. Amelly ano passado, Jorge. - Katherine abaixava a face entristecida. - Não tenho mais ninguém, não quero voltar para a casa de adoção também. É solitário lá.
- Não fique assim, eu sei que eles foram bons pais. Prometo que vamos ao enterro do seu pai, mas enquanto isso deite e descanse, você teve a noite muito cheia.
- Tá...
Dana erguia-se e caminhava para a saída, pegava o corpo do veado e passava pela porta.
- Dana... - A mulher olhava para a jovem. - O-obrigada. - Dana novamente sorria e saia da sala. Katherine deitava. Mesmo desconhecendo onde estava, quem eram aquelas pessoas, era a primeira vez que Katherine se sentia finalmente em casa e segura.
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O sol brilhava fora do galpão, Kurt estava de braços cruzados, encostado numa das árvores ao redor. Ao notar a aproximação de Dana, ele desencostava e caminhava na direção da mesma.
- E então?
- Ela não falou muito, mas podemos confirmar a suspeita de Puros na nossa área. Nenhum de nós foi ao Acampamento de Denver.
Kurt coçava a barba mal feita e pensava. Enquanto a mulher colocava o veado perto de uma fogueira pré-pronta para uso.
- O que vai fazer? Não vai usa-la feito isca, não é?
- Não, eles vão nos encontrar mais cedo ou mais tarde.
- Então, já decidiu se ela vai ficar?! - Dana falava em sussurros e olhava nos olhos de Kurt, enquanto se aproximava dele com alguns passos, parecia anciosa.
- Sim, ela vai ficar. Mesmo com os reclames dos outros por ela ser jovem demais. Ela agora é um Uratha e precisa de treinamento. - Kurt sorria e tocava na face de Dana a acariciando. Ela fechava os olhos e aceitava um pouco, logo mais segurava a mão dele e afastava.
- Não podemos mais Kurt, o corvo nos observa agora e temos sorte de eu ser estérea. - Ela ficava séria, mas acompanhava os olhos dele.
Esse clima agradável é quebrado por um uivo longo que escutavam ao longe, ao noroeste dali.
- Littleboy?! - Os dois olham de onde o som vinha, Kurt ficava sério mais uma vez.
- Vamos. - Rapidamente ele começa a correr na direção do uivo, mas para no meio do caminho percebendo que Dana não o acompanhava. - Dana?! - Ele olhava para trás aguardando-a.
Dana parecia um pouco indecisa, olhava para o galpão, apreensiva.
- Mas, vamos deixa-la sozinha?
- Littleboy não nos chamaria sem ser algo sério. Não se preocupe, assim como cada um de nós o corvo irá cuidar dela, vamos. A alcateia nos chama. - Dana afirmava movendo a cabeça e seguiam para ao encontro da alcateia. Eles não perceberam, mas uma pequena névoa acinzentada começava a cobrir o ambiente.
Continua...