Cenário | Rua sem Nome

por abssyntho em

Se existe um fenômeno tipicamente moderno, é a chamada Rua sem Nome. Todo mundo já ouviu falar do “parente de um amigo de um amigo” que simplesmente sumiu do mapa. O cara foi tragado pela terra e desde então ninguém jamais o viu novamente. Seqüestro seguido de morte, fuga de lares opressores e até abdução por óvnis são explicações comuns. Mas poucos falam sobre a Rua sem Nome. Exceto talvez aqueles que fazem das ruas seu lar.

 Mendigos, órfãos, ladrões, prostitutas e toda classe de pessoas que tiram das ruas seu sustento (financeiro ou espiritual) conhecem as historias. Alguns dizem ter conhecido alguém que entrou por engano na Rua sem Nome e nunca mais voltou. Outros vão mais longe e se declaram fugitivos desta zona fantasma. Qualquer que seja a verdade, a Rua sem Nome é um mistério que poucos parecem dispostos a revelar.

Mas o que é uma Rua sem Nome?

Já reparou numa rua que não parecia estar lá antes? Normalmente isso acontece durante o trajeto diário de casa para o trabalho/colégio/psiquiatra. É como se a rua sempre estivesse lá, só que você nunca tinha reparado nela antes. Pra todos os efeitos ela é exatamente igual as demais, com algum elemento arquitetônico diferente (mas nunca chamativo), que atraia a atenção.

Por dias você passa novamente em frente à mesma rua, e a cada vez sua curiosidade é acariciada. Ruas é claro, não podem falar, já que se tratam de um conjunto de elementos urbanos inanimados; contudo seria o termo certo para descrever o impulso que algumas pessoas tem de adentrar tal espaço desconhecido.

Espaço que não precisa ser necessariamente uma rua. Megalópoles como Nova York, Moscou e Tóquio, são afetadas por fenômeno parecido onde becos sem saída surgem em regiões suburbanas ou na periferia do centro. Quartos, metrôs e até elevadores que transportam as pessoas para lugar nenhum já foram relatados, mas as Ruas, continuam sendo a singularidade mais comum.

Uma vez atraído pelo “chamado” da Rua sem Nome o indivíduo deixa de lado a cautela em prol da curiosidade. É a partir deste momento em que ele jamais é visto novamente. Conversas com amigos sobre a tal rua caem no esquecimento – ninguém se lembra dele(a) ter mencionado tal lugar ou mesmo onde ficava. Os que lembram são incapazes de apontar com exatidão sua localização.

Mapas – antigos ou oriundos de modernas ferramentas contemporâneas – não trazem qualquer referencia a rua. Mesmo os moradores de áreas adjacentes ao surgimento de uma Rua sem Nome, se vêem presos numa pegadinha – “Essa rua fica por aqui? Engraçado, não tenho certeza, mas acho que é no quarteirão de trás”.

Callejeros

Em espanhol, o termo callejero é um adjetivo usado para designar algo proveniente das ruas. Isto inclui também seus moradores. Aquele homem que vive há quase uma década sob a marquise de um antigo prédio do governo, catando papelão diariamente para substituir um confortável cobertor, tem maiores chances de oferecer alguma pista sobre o paradeiro da garotinha desaparecida do que qualquer testemunha ocular.

Infelizmente, quando disse aos policiais que talvez tivesse pistas sobre o paradeiro da menina, o sem-teto passou de testemunha a principal suspeito. A vida é assim, principalmente nas grandes cidades – sua aparência te “denuncia”. Por isso vá com calma quando estiver pesquisando com o “povo das ruas” sobre a Rua sem Nome, eles tendem a guardar o que sabem consigo. Melhor deixar as pessoas acreditarem que são loucos do que dar a munição que confirma o fato.  Afinal, quem acreditaria que a cidade é assombrada por uma rua fantasma?

Se você chegou até aqui então é um dos poucos com a mente aberta o suficiente para ficar frente-à-frente com um dos grandes mistérios do século XXI. Por sorte o povo das ruas é fácil de agradar. Ofereça um pouco de comida, drogas ou sexo e eles começam a falar. Se não funcionar dê-lhes dinheiro. Nunca falha.

Muito bem, você esbarrou num provável caso de Rua sem Nome. Identificou a vítima, as testemunhas e um callejero disposto a compartilhar informação. O passo seguinte é filtrar os dados que conseguir. O melhor jeito de fazê-lo é cruzar com os de casos semelhantes na mesma região ou na cidade para encontrar um padrão. Conversar com outros habitantes das ruas também pode funcionar, embora cada um possua sua própria crença sobre a Rua sem Nome e de como ela escolhem suas vítimas.

- Francisco Franco, Guia de Sobrevivência nas Cidades do Século XXI.

 

Usando as Ruas sem Nome na sua mesa de RPG

 

Existem diversas formas de como usar a Rua sem Nome no seu RPG favorito. Dependendo do cenário onde a aventura será ambientada, a Rua sem Nome pode adotar outros formatos como os já mencionados quartos e metrôs.

No fundo não importa que espaço será usado para a manifestação desta área tão singular, o importante mesmo é o clima evocado e o gancho usado para colocar os jogadores diante do mistério.

 

Mundo das Trevas

 

No Mundo das Trevas (velho ou novo), a Rua sem Nome cabe como uma luva em qualquer crônica em andamento. Este elemento pode ser usado em qualquer jogo envolvendo vampiros, lobisomens, magos, fadas, aparições, caçadores ou o que quer que seja. As origens por trás do surgimento de uma Rua sem Nome no Mundo das Trevas pode ser tão genérica quanto queira o narrador, como também pode ser adaptada para a cosmogonia de um título específico.

Caso Filadélfia

Numa crônica mais genérica, como aquelas envolvendo mortais, os personagens podem fazer parte de uma equipe de investigadores no rastro dos misteriosos desaparecimentos. Seguindo informações de um velho bêbado, os relatos de um caso semelhante na década de 40 e o depoimento de um professor universitário, eles descobrem o que pode ser os resquícios de um antigo experimento militar envolvendo teletransporte.

Sob Tutela

Existem muitas coisas que um vampiro com Presença e Dominação é capaz de realizar. Uma delas é encantar/dominar vítimas incautas e fazê-las seguir seus desígnios. Muitos desaparecimentos envolvendo vítimas de vampiros ocorrem assim. Os corpos, vivos ou mortos, fatalmente aparecem em algum esgoto ou rio. Mas quando um poderoso ancião em torpor começa a usar de seus poderes ancestrais em busca de alimento, enganar uma cidade inteira pode ser apenas o começo.

Clareiras

Existe uma rede vital que conecta todos os seres vivos do mundo. Essa rede também pode ser encontrada na própria terra, cujos caminhos são chamadas pelos místicos de Linhas de Ley. Os nós onde estas linhas se encontram são os ninhos ou locais de poder, áreas em que a energia do cosmos é mais forte. Nestes locais as leis da nossa realidade misturam-se a de uma realidade paralela que os lobisomens conhecem muito bem. Tais locais são sempre abençoados em áreas selvagens, mas quando se manifestam em ambientes urbanos tendem a atrair indivíduos incautos ou pior, vomitar aberrações de outros mundos.

Mesmerizadores Espaciais

Os magos estão acostumados a lidar com seres de dimensões tão diferentes que o próprio conceito de vida precisa ser revisto. É o caso das Ruas sem Nome ou como os magos chamam M´la M´shin (Mesmerizadores Espaciais). Esta forma de vida atípica consiste num ambiente espaço-temporal consciente, capaz de mimetiza-se a área local (uma espécie de camuflagem) de modo a facilitar a caça. Sua presa preferida, é claro, são os habitantes nativos, encantados pelo novo e misterioso local. Magos versados em Correspondência/Espaço são capazes de perceber a presença destes seres facilmente.