Luiza Grimaldi

por rafahygino em

Partilho com vocês a antagonista que apresentei para o "Concurso Vampiro: O Réquiem".

 

Histórico

Quando foi escolhida para se casar com o fidalgo português, Vasco Fernandez Coutinho, a pequena italiana chamada Luiza ficou feliz em agradar os pais, falidos, devido ao dote que receberiam; ainda que seu esposo fosse muito mais velho. Contudo, a notícia de que aquele fidalgo tinha sido designado como um dos Capitães do novo mundo foi recebida como uma tragédia. Quando partiu, seus familiares sabiam que jamais voltariam a vê-la, mas não sabiam a profundidade de sua maldição.

Chegando ao Novo Mundo, a caravela iniciou combate contra os nativos antes mesmo de aportar pela primeira vez. Foram anos difíceis que marcariam sua eternidade. Décadas de combates sangrentos fizeram com que Luiza se tornasse uma beata devota, somente o amor do Sangue de Cristo poderia defendê-los dos infiéis. Por esses tempos, havia muito serviço a ser feito e Luiza considerava o trabalho duro uma penitência e um consolo, algo bem diferente do planejado por sua família - que caíra em desgraça juntamente com a Casa dos Fernandez - mas que a colocava em local de destaque.

Em vista da derrota eminente de seu projeto de colonização, a Coroa Portuguesa mandou reforços, assim chegou à Vila do Espírito Santo a maldita trupe de Duarte Lemos. Eram veteranos de muitos combates na Ásia e na África e haviam visto segredos demais. O capitão do navio estava morto, e comandava sua tripulação com punhos de ferro. Quando aquela tripulação profana acossou os nativos, foram recebidos pelos portugueses com honrarias. Mas não tardou para que todos na pequena Vila percebessem que algo não ia bem. 

O Capitão Vasco, determinou que construíssem um forte na Ilha que ficaria conhecida como “Vitória”, em homenagem ao sucesso dos últimos combates. Talvez essa fosse uma tentativa de manter o frio olhar de Duarte longe da bela Luiza.

Quando o Capitão amanheceu morto, um padecimento inesperado e sem sintomas. Duarte veio até Luiza. A mera presença de um homem solteiro, sozinho com uma mulher recentemente enviuvada, era perturbador. Luiza chorava e não podia nem mesmo levantar o olhar. Esperava que Duarte lhe pedisse em casamento, mas não sabia que lhe negaria o direito de recusa. E ele ofereceu muito mais do que ela poderia suportar.

Foi assim que a pequena Luiza morreu.

Com o passar do tempo, ficou claro para Duarte que ela jamais o aceitaria. Sentindo falta de suas aventuras, içou velas e voltou ao mar.

Sozinha na Colônia, Luiza teve o pulso necessário para continuar e empreitada. Por esses tempos, era considerado falta de pudor se uma mulher fosse vista na rua. Então, a menina escondeu seu rosto sob a vasta grinalda, que mandou tingir de negro para marcar seu eterno luto, não apenas por seu marido, mas também por si mesma. Assim, Luiza passou a ser conhecida por todos como Grimaldi, ou Grinaldi, em virtude do adereço fúnebre que ela insistia em usar, não apenas em sinal de luto pelo marido, mas também por si mesma. De sua casa, com pessoas que lhe eram fiéis, serventes livres ou escravos domésticos, Luiza governou a colônia. De fato, umas das primeiras mulheres a governar em todas as Américas.

Mandou construir para si um grande casarão na Vila de Vitória, sob sua ordens foram erguidas muralhas de pedra em torno da Vila. O local era perfeito para se defender dos assaltos dos indígenas e, mais tarde, dos piratas que Luiza aprendera a odiar.

Com o passar dos tempos, a solidão se abatera sobre ela. Com tantos novos colonos chegando e navios passando pela baía regularmente, Luiza não tardou a sucumbir ao desejo de tomar para si uma jovem companheira. Maria era seu nome e a vida de concubina não lhe havia arrancado a doçura.

Permaneceram juntas por décadas, até que a rotina de Luiza começou a despertar muitas suspeitas. Desse modo, resolveu partir numa noite quente de verão, rumo a um convento na Espanha, onde teria morrido aos 87 anos em 1626. Luiza só retornaria para a terra que aprendeu a amar depois de 270 anos.

Personalidade

Luiza conquistou o rico fidalgo por sua beleza, há mais de quatrocentos anos. Desde então, sua aparência tem se tornado cada vez mais exótica e encantadora. Poucos podem resistir aos seus encantos, menos ainda podem se opor a sua vontade férrea. Em sua tez pálida, a magra silhueta ganha aspectos de mármore, delicado, frio e eterno. A rigidez costumeira - típica de uma mulher educada para as Cortes - pode ser interrompida por um gesto elegante que traz a marca de uma menina que jamais amadureceu.

Com sutileza ela é capaz de impor sua posição aos subordinados, enquanto isola rapidamente os inimigos do restante da sociedade, tornou-se habilidosa nas artes dissimuladas dos altos salões, muito antes do mundo se tornar o que é hoje.

Em termos de personalidade ela combina: os caprichos de uma fidalga com a disciplina de uma colonizadora. Por vezes age com uma resolução inquebrável, mas sempre comedida, para não exceder suas atribuições de dama. Aparece pouco na sociedade, sempre fala baixo e raramente levanta o olhar. Mas se for necessário não duvide que ela ficará de pé e mostrará a todos, sem perder o charme, quem realmente manda. Poucos tiveram o infortúnio de conhecer seu pior lado, menos ainda foram capazes de fazê-lo permanecer vivos.

Ao olhá-la fica evidente que sua alma é profunda, escura e repletas de segredos. Um sentimento a atormenta, faz de suas noites um Réquiem interminável, ela jamais desejou sobreviver ao seu amado marido. Sendo condenada à existência, ela jamais daria fim à própria vida, pois isso a condenaria ainda mais perante os olhos de Deus. Em segredo, ela dedica noites incontáveis à penitências dolorosas, esperando que um dia Deus olhe para seu sofrimento e lembre-se de Sua cruz, compadeça-se e a perdoe.

Note bem que, como aristocrata, ela jamais se arrepende de se alimentar de alguém da plebe - o terceiro Estado foi colocado por Deus em situação de subserviência - e para ela, os vampiros nobres de espírito devem mesmo é se alimentar dos miseráveis. Em seu tempo, escravos eram torturados e mortos até por padres, e a Igreja não considerava isso um pecado. Ela ainda sobreviveu para ver de perto o pior da Inquisição Ibérica. Matar alguém não entra em conflito com sua religiosidade fervorosa.

O que a faz sofrer é algo mais sutil e complexo, é o desespero de estar presa à carne e ao mundo decaído, eternamente afastada de Deus. Para ela, todas as almas são eternas e a pós-vida como vampira é um castigo mais ameno e passageiro do que o inferno que muitos certamente encontrarão no além vida. Como a maioria dos Europeus do século XVI, ela não duvidou por um momento da existência da Trindade e dedicou grande parte da sua existência a um objetivo último - o Paraíso. Pode parecer contraditório, mas para ela, basta ter paciência, a Quinta Era acabará e na Sexta Jesus estará de volta, talvez trazendo seu perdão. Aí Ele reinará mil anos e ela terá uma chance de reencontrar a felicidade.

Luiza como Antagonista

Em seus dias de juventude, Luiza sabia que devia temer a noite, ela jamais duvidou das legiões demoníacas que espreitavam nas sombras. Mas as artimanhas do Diabo são muitas e o mundo moderno está transbordando delas. A mais recente é a vertiginosa transformação pela qual o mundo passou no último século. Em Vitória, no Espírito Santo, a cidade aumentou em mais de cinco vezes nesse período. E a maioria dos novos habitantes não são "gente da terra", são descendentes de camponeses, ex-escravos e todo tipo de "corja" que macula sua amada colônia. Luiza se resignará a aceitar as mudanças que não pode impedir, mas na cidade que ela criou, todos os vampiros estão sob sua tutela e irão dançar conforme sua música.

Há uns dez anos ela percorreu a capital revogando o direito de todos Amaldiçoados de criar nova prole. Procedendo uma verdadeira Devassa, estabeleceu um grupo de sua base de apoio e nomeou um Inquisidor para assegurar que sua vontade seria cumprida. Os membros deveriam esperar por tempos menos tribulados para escolher entre os mortais que poderiam integrar Família tão nobre e antiga.

Isso gerou certa inquietação e começou-se até a falar em traição. Mas nada escapa do controle da pequena Luiza. Não em sua cidade.

Sem aviso, numa noite chuvosa de Outono, todos os vampiros com menos de cem anos foram assassinados. Um plano tão bem orquestrado que as resistências previstas foram aniquiladas antes de se mobilizar.

Agora os personagens recém criados estão sozinhos para sobreviver nas noites incertas que virão. Serão capazes de perceber que a Pequena Luiza está por trás dos assassinatos repentinos? Ou pior, poderão escapar das teias da Viúva Negra?

Dicas para o Mestre

Luiza Grimaldi pode ser utilizada em qualquer crônica ambientada no Brasil, com poucas adaptações. Na verdade, depois do exílio auto-imposto, ela pode ter se mudado para praticamente qualquer cidade do mundo, especialmente da Europa. Ela se sentirá mais à vontade em locais onde os Lancea Sanctum detém algum poder, aparecendo sempre como uma pequena donzela, protegida pelos cardeais morto-vivos. Foi concebida para atuar como matriarca zelosa da honra e dos bons costumes de seus semelhantes, sempre ocupando posição de destaque.

Olhando a ficha com atenção, o Narrador pode perceber que Luiza alimenta-se de sangue vampírico a pelo menos cem anos. Isso pode explicar as reuniões realizadas atrás de portas fechadas com os Lancea Sanctum. Alguns rumores dizem que Luiza Grimaldi bebe mais do que vinho junto com a hóstia, ela estaria se alimentando do sangue de seus lacaios! Esse fato horrendo se manifesta em uma missa negra, em que os anciões e a jovem partilham o próprio Vitae. Não se sabe se essa experiência criou um Vínculo verdadeiro ou falso, mas os Lancea Sanctum parecem ter uma relação de confiança e fidelidade "protegida". Mas no fundo, Luiza sente um ímpeto assassino que a levou a cometer certos exageros recentemente. Será que ela permanecerá satisfeita com o jejum auto-imposto ou será que ela alimentou-se dos neófitos que condenou à morte? Cabe ao Narrador decidir o que fará com ela, existindo três opções principais: 1) uma jovem doce e virginal, que guarda o luto eterno e sente-se culpada pelo instinto assassino que a consome; 2) um monstro com máscara de jovem indefesa e atormentada; 3) uma vampira com a vocação para viver e que está prestes a se reinventar, rompendo com os Lancea Sanctum  - talvez da pior maneira, para eles - e sendo seduzida por outras possibilidades. Ela poderia até ser convencida a se juntar a outra Coalizão: o Círculo da Anciã, por exemplo.

Existem outros rumores, principalmente a respeito de Duarte Lemos, o maior inimigo de Luiza, um vampiro que já atuou como cruzado e pirata. Alguns dizem que Luiza cometeu Diablerie e o matou, outros dizem que ela o mantém em Torpor em algum lugar de Vitória. Ainda há aqueles que afirmam que ele ainda permanece na Danse Macabre e pode retornar qualquer noite dessas. Outro rumor forte, é que a ex-prostituta que Luiza transformou, chamada em vida de Maria, seria na verdade Maria Ortiz, personagem quase folclórica do ES que teria rechaçado sozinha um ataque de piratas holandeses no século XVII. As más línguas dizem que Maria Ortiz envolveu-se afetivamente com Luiza Grimaldi e depois foi expulsa para Europa. 

Os rumores e a carga histórica pode e deve ser usada pelo narrador para enriquecer a antagonista, fazendo dela mais do que uma viúva negra que seduz e consome os jovens desavisados. Ela carrega um sentimento profundamente cristão, típico dos portugueses do século XVI. Isso pode ser explorado em diálogos carregados de drama, uma vez que num confronto, os personagens terão pouca ou nenhuma chance de sobreviver. Contudo, a história dessa antagonista também deve mostrar ao Narrador que ela tem seus próprios assuntos para resolver, não apenas perseguir jovens transgressores, embora ela considere isso uma questão de ordem. para o bem da dignidade e da disciplina da comunidade imortal.

Com 462 anos de idade, Luiza passa por sua maior prova, poderá sobreviver a si mesma? De agora em diante ficará difícil disfarçar, ela precisa se alimentar do sangue de outros vampiros. Continuará sendo uma sobrevivente e superará o tabu que a levou considerar os vampiros como iguais para que ela mesmo se torne algo mais? Ou será que a culpa a consumirá até levá-la á Morte Verdadeira? Cabe a você decidir, e revelar a seus personagens, na mesa de jogo.

 

Nome: Luiza Grimaldi

Conceito: Donzela de Ferro/Viúva Negra

Virtude: Fé

Vício: Orgulho

Clã: Ventrue

Coalizão: Lancea Sanctum.

Atributos

Inteligência 7, Raciocínio 5, Perseverança 5, Força 6, Destreza 5, Vigor 5, Presença 7, Manipulação 8, Autocontrole 5.

Habilidades

Erudição 6, Investigação 4, Medicina 3, Ocultismo 5, Política 7, Armamento 5, Cavalgar 3, Dissimulação 5, Esportes 3, Sobrevivência 5, Astúcia 4, Empatia 5, Expressão 4, Intimidação 5, Manha 4, Persuasão 6, Socialização 4, Trato com Animais 3.

Vantagens

Idiomas (Italiano, Português, Latim, Guarani, entre outros), Aparência Surpreendente 4, Recursos 5, Servidores 5, Status(Clã) 5, Rebanho 4, Refúgio (Espaço) 5, Refúgio (segurança) 4.

Disciplinas

Dominação 6, Animalismo 3, Resiliência 3, Auspícios 4, Celeridade 4, Feitiçaria Tebana 4, Majestade 3, Ofuscação 4, ímpeto 4.

 

Vitalidade: 10

Força de Vontade: 10

Potência do Sangue: 9

Humanidade: 5

 

Tamanho: 5

Defesa: 5

Iniciativa: 10