Drácula, Anne Rice, e os Vampiros no Brasil
Desde a publicação de Drácula, de Bram Stoker, em 1897, a literatura de horror mundial não foi mais a mesma. Ali, vinha ao mundo aquele que se tornaria o maior vampiro de todos os tempos, no imaginário e cultura popular: O Conde Drácula, inspirado no conde romeno Vlad Tepes III, conhecido como Vlad Dracul. Através de Drácula se popularizam de vez os mitos vampirescos romenos, que têm também a Condessa Elizabeth Báthory como personagem. A Transilvânia torna-se “capital” mundial dos vampiros, servindo como ponto de referência e fonte de inspiração para vários escritores.
Muito tempo se passou desde que Drácula foi lançado, mas neste período houve inúmeras outras publicações envolvendo os seres de presas salientes. O Livro dos Vampiros, de J. Gordon Melton apresenta uma série de descrições sobre os mitos, lendas e histórias populares envolvendo esses seres com presas. Fatos, ficção, e mesmo uma passagem por seitas de cultos vampirescos. É uma verdadeira Enciclopédia de Mortos-Vivos, como o próprio subtítulo diz.
De todas as obras, porém, a que mais obteve notoriedade e reconhecimento foi a da norte-americana Anne Rice. Os vampiros de Rice atravessam longos anos até a contemporaneidade, sãos seres belos, sedutores, dotados de um charme quase natural e envolvidos em dilemas existenciais profundos. Os livros fizeram tanto sucesso que dois deles, Entrevista Com O Vampiro e A Rainha dos Condenados, tiveram adaptações para o cinema, ambos com considerável sucesso.
Mais recentemente, a atenção do público tem se voltado para um novo tipo de vampiro: o que desafia seus instintos de predador e decide conviver pacificamente, ou mesmo proteger, os humanos. Vocês sabem do que estou falando. A história de Edward e Bella tem levado milhões de pessoas às livrarias e aos cinemas.
Mesmo sendo duramente criticada pelos fãs dos clássicos mundiais da literatura vampírica, os vampiros de Mayer também são seres de personalidades complexas, e muitos estão envolvidos em dilemas éticos sobre a melhor forma de levar suas não-vidas em concordância com a sociedade de mortais. (Mas brilhar ao sol é demais, não?).
No Brasil, a literatura vampiresca não possui seus clássicos. Pelo menos não a ponto de serem lembrados com facilidade por quem gosta do assunto. Isso se deve, em parte, ao próprio descaso com que a literatura de horror nacional é tratada. Seus livros não têm tanta publicidade, circulando entre um público seleto e restrito comparando-se ao alcance que obras como o próprio Crepúsculo possuem por aqui.
No entanto, ainda há uma literatura de horror no Brasil. “O Vampiro que Descobriu o Brasil”, de Ivan Jaf, conta a divertida e intrigante história de um português que, após ser “beijado”, vem para o Brasil nas caravelas à procura daquele que o transformou. Seu objetivo é destruir seu criador para, assim, livrar-se da maldição vampírica. A história do livro é interessantíssima, e ao longo da narrativa assistimos, sob a ótica de Antônio Brás, o protagonista, vários acontecimentos nacionais verídicos de suma importância histórica, como a exploração do pau-brasil e a campanha das Diretas Já. O final do livro também é bastante satisfatório, deixando o leitor com ânsia por mais.
Recentemente, este anseio ganhou um prêmio no Brasil. São as obras do paulista André Vianco. jornalista e escritor de livros de terror, fantasia, suspense, entre outros. Foi com os vampiros que Vianco caiu nas graças do público. Suas obras mais famosas, Os Sete, Sétimo e Bento têm despertado interesse verdadeiro por parte de um público que vai além dos fãs de fantasia.
A trama d’Os Sete gira em torno dos corpos encontrados dentro de uma caixa de prata, numa caravela descoberta recentemente. Apesar de advertências, o Departamento de História da Universidade de Porto Alegre decide estudar os corpos, em incrível estado de conservação, e assim conhecemos Os Sete: Inverno, Acordador, Tempestade, Lobo, Espelho, "Gentil" e Sétimo, vampiros de poderes inimagináveis. A saga continua com Sétimo, onde vemos a ascenção deste vampiro, um dos Sete, e sua cavalgada rumo ao controle domínio e território numa terra que lhe é totalmente estranha, mas a qual ele decide fazer lar: o Brasil.
Vianco ainda tem outras publicações, a maioria ambientada no Brasil e nas quais o terror e o suspense são elementos essenciais, e é importante ressaltar os elementos profundamente nacionais de suas história. Se já nos é emocionante ler sagas de vampiros que viveram numa Europa medieval, numa Norte-america colonial, num Oriente misterioso, imaginem conhecer aventuras ambientadas no próprio Brasil, onde o sistema e o ritmo de vida nos são tão mais familiares. É só incentivar a produção nacional e não perder de vista o que rola no cenário lá fora também, e assim quem ganha não é apenas a literatura, mas nós, leitores, para quem uma boa história nunca acaba.