Crônica - Outbreak - parte 02
Raccon City, 28 de setembro de 1998, 02:36 AM.
De imediato eu fim de encontro àquele pequeno portão que nos separava das escadas de incêndio. Parecia que aquela era a única saída. Ao examinar, percebi que o cadeado era bem frágil. Enquanto Kevin, David, Wilkins e George empurravam a pesada lata de lixo contra o outro portão, eu peguei meus apetrechos e fui tentar abri-lo.
À medida que eles empurravam a grande lata de lixo, eu via o portão ficando cada vez menos resistente com todos aqueles “homens” empurrando-o para dentro. Era questão de tempo até que eles conseguissem invadir o corredor. Minhas mãos trêmulas tentavam inutilmente abrir aquele pequeno cadeado. Eu já abrira fechaduras muito mais complexas em bem menos tempo. Precisava me concentrar.
Antes que a lata de lixo chegasse ao portão, ele foi arrombado, caindo ao chão e nos deixando completamente vulneráveis. Aquelas coisas eram lentas, desviaríamos facilmente de um ou dois deles, mas todos aqueles certamente nos mataria em muito pouco tempo.
Kevin, Wilkins e David, apontaram suas armas na direção deles e vieram andando de costas em nossa direção, meu coração batia cada vez mais acelerado, minha concentração era praticamente zero. Respirei fundo e retornei à minha missão, dessa vez determinada a salvar nossas vidas. Mais alguns poucos segundos se passaram e um leve “click” mostrou que eu finalmente havia conseguido abrir. Gritei para todos e passei pelo portão, pegando o primeiro lance de escadas, quando olhei na direção da rua e vi aquelas várias pessoas se arrastando e se amontoando, caminhando lentamente em nossa direção, brigando entre si por nossa carne.
David foi o ultimo a subir o primeiro lance de escadas. Recolhendo-a até o segundo andar, David pegou uma de suas chaves de fenda e travou a escada para que ela não descesse quando eles começassem a bater no portão.
Seguindo pelas escadas, ganhamos o segundo andar, onde uma porta indicava a saída de incêndio daquele lugar. A porta levava a um largo corredor com outra porta na extremidade oposta. Essa porta estava fechada por uma grossa corrente presa por um cadeado robusto que eu abriria facilmente, mas decidimos seguir em frente e ganhar os outros andares, todos com a mesma disposição do segundo. Chegando ao terraço, Wilkins abriu o outro frágil portão com um chute e chegamos ao local onde dois heliportos dividiam o espaço. Enquanto recuperávamos o fôlego, nós olhamos pelas ruas da cidade e percebemos instaurado. Só se via destruição. Vários carros batidos e em chamas em meio àqueles que foram os moradores da cidade, todos se devorando, se alimentando da carne uns dos outros.
Uma pequena porta do outro lado do terraço nos levou ao quinto andar do prédio. Descendo por uma estreita escada, avançando cada degrau com extrema cautela, David e Kevin foram abrindo caminho. Passando por uma porta dupla, chegamos ao corredor de acesso ao pátio do local. Na parede ao lado direito, quatro telefones púbicos que não funcionavam. No pátio, olhando à extremidade esquerda, dois homens, um deles deitado sobre uma poça de sangue e o outro sentado em um banco próximo. Tentamos passar sem sermos notados indo em direção a uma grande loja de eletrodomésticos na extremidade direita do local. Com medo, a estudante de traços orientais não percebeu uma lata de lixo na esquina do corredor, esbarrou na mesma que cai ao chão chamando a atenção do homem que estava sentado.
Com hostilidade, o homem com uniforme de vigia sacou sua arma em nossa direção e perguntou o que estávamos fazendo ali. Kevin, com sua arma em punho tentou verbalizar com o homem dizendo para ele abaixar sua arma. Wilkins e David deram cobertura e à medida que Kevin falava, eles se aproximavam daquele homem que parecia cada vez mais apreensivo.
De longe fui acompanhando-os até que as armas foram abaixadas e então me aproximei olhando primeiramente para o homem caído sobre uma grande poça de sangue, aparentemente morto. Sua boca estava suja de sangue e uma perfuração em sua região torácica denunciava a causa de sua morte. Enquanto George confirmava seu óbito, o vigia lamentando a morte do companheiro de serviço, afirma ter atirado nele após receber uma mordida no antebraço direito e um arranhão em sua face. Ele não entendia o que poderia ter acontecido com seu amigo Larry que há anos divide o turno de serviço com ele.
Yoko se oferece para tratar do ferimento do vigia que se nega de receber os cuidados, convida a todos para acompanhá-lo e sai andando em direção ao corredor de onde viemos. Apreensivos nós o seguimos voltando pela porta dupla por onde passamos, virando em um corredor à direita, passando por outra porta e ganhando o corredor de serviço do shopping. Indo até a sala das câmeras, o vigia que possuía uma tarjeta indicando o nome “Gregory” em sua camisa nos mostrou a situação nos outros andares do shopping. O quarto andar tinha a mesma disposição das lojas do quinto andar e estava completamente vazio. O quinto andar, onde ficavam, o cinema, a praça de alimentação e o salão de exposições cerca de setenta pessoas agindo como as várias pessoas pela cidade, todos praticando canibalismo entre si. No salão de exposições vários animais selvagens com suas peles rasgadas mostrando profundas feridas apresentam comportamento semelhante.
O garoto de cabelos amarelos, olhando aquilo propôs que ficássemos ali até que tudo acabasse, sendo interrompido por Gregory que apontou dois problemas. Em primeiro lugar, ele disse que o shopping tem um sistema eletrônico programado externamente para abrir todas as lojas, bem como os portões de entrada para o shopping, todos os dias às sete horas da manhã. O segundo problemas é ainda pior, com tristeza no olhar ele disse que ninguém chegaria para nos ajudar, ligando e televisão e nos mostrando o anúncio que passava repetidamente no noticiário. Lenny, o repórter do Raccon City News, mostrava imagens da cidade destruída, falava que todas as saídas da cidade, bem como os meios de comunicação externos estão bloqueados. Falava também, que como medida extrema para impedir que essa doença de natureza desconhecida atingisse outras cidades próximas, o prefeito Michael Warren decidiu dizimar a cidade em uma grande explosão, varrendo-a do mapa. Terminou a transmissão falando a todos os não infectados para deslocarem-se até a central de metrô até as dez da manhã quando a explosão ocorrerá. Segundo ele, o governo daria abrigo aos sobreviventes.
Chocados com a notícia, não podíamos acreditar no que tínhamos assistido. Estamos sozinhos neste inferno que a cidade se tornou e a única esperança é tentar chegar à estação central de metrô em pouco mais de sete horas.
Que DEUS abençoe nossas almas.