Capitulo 3 - O eco das Árvores

           O sol poderia estar brilhando, as flores felizes com sua fotossíntese e a vida na cidade, mesmo uma correria, sempre na linha, entretanto, a pequena Uratha não tinha desejo nenhum de apreciar esses momentos. Transformada em lobo, corria sentindo medo procurando uma fuga para aquele pesadelo, se é que fosse um. Após sair do galpão, percebia que nem Dana ou Kurts estavam por perto. Estava sozinha e num corpo que desconhecia – pois nem sabia como tinha virado um lobo tão pouco sabia voltar a ser humana – entrava em desespero. Sem saber o que fazer apenas movia o corpo para o mais longe possível, era seu instinto. Em sua boca sentia o gosto de carne do inimigo, queria provar mais uma vez aquela carne, isso a assustava, mas então lembrava: Estava com fome. Claro, isso não era a única coisa para se preocupar, pois logo estaria sem energias para continuar, entretanto esperava que fosse longe daquilo tudo.

            Seus olhos buscavam o perseguidor enquanto entrava cada vez mais na floresta, mas não o via. Poderia ser até um alivio se não percebesse mais correrias pela camada de folhas e galhos no chão da floresta. A sua direita e esquerda, galopes fortes, lobos com uma estatura bem maior que ela a acompanhavam e perseguiam.

“Não são eles.” – Pensava voltando a olhar para frente, mesmo com aquela confusão mental, Katherine poderia sentir cheiros, ouvir vozes e ver coisas que ela nunca sentiria na vida humana. E ao percebê-los, algo identificou que aqueles lobos não estavam ali para protegê-la.

            Não demorou muito para suas pernas começarem a fraquejar, mas não tinha tempo para sentir o cansaço. Logo após a primeira fraquejada ouvia um estrondo enorme, lembrava o barulho de um tiro que fazia os seus ouvidos e o dos lobos doerem. Um segundo depois com o corpo suspenso no ar sentia o estomago formigar e algo a empurrar, desequilibrando-a. Rodopiava até bater numa árvore.

            Nesses milésimos de segundos a dor se estabelecia e as mãos, voltando ao estado normal, iam ao estomago. Ela havia recebido um tiro e seu sangue jorrava. Sentia a mistura de desespero e fúria, os braços formigavam, as pernas pareciam crescer pelos superficialmente. Foram alguns instantes assim até sentir algo sugar as dores do corpo, os pelos e toda sua fumigação, chegando a o ponto de apenas sentir novamente o cansaço.

- Está acontecendo, mas não será dessa vez. - Os lobos se aproximavam da garota a rodeando. Um deles voltava a se tornar humano e falava. Ele possuía uma aparência oriental, suas vestes se resumiam a palito e gravata.

- À bala em teu estomago há de drenar tua essência filha de Luna! – Um terceiro oponente aparecia atrás, descendo de uma das árvores. Ao se aproximar, os outros se afastavam de Katherine, que sangrava. - Teu futuro não existirá mais depois de hoje. – Ele continuava, apontando a arma que estava empunhando, Katherine percebia uma tatuagem naquele braço, mas não conseguia identificar. Vestia uma roupa grossa, feita de couro preto, seus cabelos eram raspados e usava um brinco na orelha esquerda, tinha pele escura.

- Por quê? Por que isso tudo?! – A garota estava em lagrimas, a mão estava sobre seu estomago, em banhada de sangue.

- Não é preciso explicações para você. Apenas uma palavra. Vingança! – Nesse momento ouve-se um uivo que mesmo longe era feroz, quem quer que fosse estava furioso. O grupo de Puros olhava na direção do uivo e voltavam para o homem com a arma.

- Vladimir, não há tempo.  – O Oriental se pronunciava enquanto um vento misterioso balançava as árvores fortemente. - Ele está chamando reforços.

“Protejam a garota”

            Katherine ouvia novamente o sussurrar, parecia estar em todo o ambiente como um coro de várias vozes. As árvores balançavam cada vez mais fortes, a ponto de cair mais folhas que o comum.

- Morra! – Irritado, o olhar do homem negro voltou-se para a jovem, que fechava os olhos com a perca de sangue. Por fim, só ouviu o gatilho da arma de Vladimir e os sussurros em coro: “protejam-na...”.