Sombras da Noite - Epílogo

"Das profundezas do desespero surge o início da grandeza" - Guia do Sabá

    Os passos secos e firmes da bota ecoam levemente pelo beco escuro e deserto. De dentro do casaco de couro sai um isqueiro. A mão pálida o leva à frente e a chama irrompe dele, acendendo o cigarro nos lábios finos e pálidos da figura sinistra que anda pelo beco.
    Os cabelos negros, secos e mal cuidados caem à face pálida homem de feições leves, bela e letal. O cigarro em seus lábios vai queimando lentamente a cada trago. O esforço para fumar compensa o sabor forte da nicotina. Os pulmões, à muito mortos, fingem funcionar debilmente à vontade do homem.
    Um grito é ouvido de trás de um container de lixo, enferrujado. Uma mulher se debate, caída, dois homens a atacam. Um deles, rasga à força o vestido da mulher, com a lâmina pequena de um canivete, que por acidente, acaba cortando levemente o seio dela. Um filete de sangue escorre pelo seio nu enquanto o outro estuprador abre o ziper das calças, ponto seu membro excitado para fora. Enquanto um homem sufoca a mulher, o outro abre as pernas dela.
    Excitados pelo perigo, empolgados pela aventura, rígidos pela violência e concentrados no estupro, ambos não ouvem os passos das botas negras se aproximarem. Ambos não percebem quando as sombras rastejam e se aproximam por trás dos dois. Ambos não percebem a maça volumosa de sombra envolver a única lâmpada que ilumina o beco. Ambos não percebem o cheiro do tabaco e da nicotina. Não percebem a presença do homem, atrás deles. Eles não percebem também as sombras se enrolando lenta e furtivamente em seus pés e mãos.
    Mas os dois percebem quando são arrastados por volumes de sombras densas e presos na parede do beco, com pés e mãos atados pelas maças da mortalha sombria.
    Os olhos negros, frios e sem brilho do homem fitam os dois. Sombras, ao comando do homem, cobrem a boca dos estupradores. A mão do homem tira de dentro do casaco uma faca afiada. A lâmina desliza pelo rosto dos estupradores enquanto o homem pensa qual dois dois vai ser o primeiro a perder uma parte de seu rosto.
    O último trago do cigarro. Uma orelha a menos. Um grito sufocado, olhos arregalados. Um sorriso nos lábios finos e pálidos.
    A binga cai no chão. Um olho a menos. Sangue jorrando no rosto sombrio do homem. Mais um sorriso nos lágios.
    A mulher sai correndo, desesperada para sair do beco. Um pênis a menos no mundo. Um membro flácido no chão. Sangue jorrando na calça de couro do homem. Uma gargalhada em tom baixo, contida.
    Dois corpos depenados, jogados no chão. Membros espalhados, visceras arrancadas. Estupradores ainda agonizando, dando seus últimos suspiros antes de finalmente morrerem. Agonia, dor, medo. Ferramentas úteis para a punição.
    Um homem saindo do beco, as sombras voltando aos seus devidos lugares.


- Faço que que tenho que fazer. Quem mais faria?

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O Autor

Gabriel

Brasileiro, taurino, irônico, portador de heterossexualismo, graduando em Psicologia, apaixonado por RPG e questionador das besteiras da vida cotidiana.